Negócios
Brasil
Indústria e Mercado
Aliança estratégica em um momento de aquecimento do setor?
Uber e iFood integram seus serviços em parceria inédita.
15/05/2025, 22:00
A movimentação estratégica das duas maiores plataformas de serviços digitais do Brasil acaba de ganhar um novo capítulo. Anunciada na quarta-feira (14/05), a união entre Uber e iFood promete transformar a experiência dos usuários e redesenhar o cenário competitivo do setor. Este acordo surge em um momento crucial, com novos players internacionais mirando o mercado brasileiro e investimentos bilionários sendo anunciados por diferentes concorrentes.
Os detalhes da parceria Uber e iFood
A parceria Uber e iFood permitirá que os usuários acessem serviços de ambas as plataformas sem precisar alternar entre aplicativos. Na prática, clientes do iFood poderão solicitar corridas da Uber diretamente pelo app de delivery, enquanto usuários da Uber terão acesso aos restaurantes, mercados, farmácias e lojas de conveniência disponíveis no iFood.
A implementação das mudanças começará em cidades selecionadas no segundo semestre de 2025, com expansão gradual para todo o território nacional. No aplicativo da Uber, será criada uma aba de "Delivery" com as opções do iFood, enquanto o app do iFood ganhará uma seção de "Mobilidade" para acesso às corridas da Uber.
"Hoje, apenas cerca de metade dos usuários usam as duas plataformas de maneira recorrente. Então, essa parceria representa mais um grande passo na nossa missão de ajudar as pessoas a irem a qualquer lugar e obterem qualquer coisa com um toque", destacou Dara Khosrowshahi, CEO da Uber.
O Mercado de delivery em transformação
O cenário do delivery no Brasil vive um momento de intensas mudanças e forte competição. O iFood, líder absoluto no segmento, acaba de alcançar a impressionante marca de 120 milhões de pedidos mensais. A empresa atende cerca de 43 milhões de usuários ativos mensalmente e está presente em aproximadamente 1.500 cidades brasileiras.
Por outro lado, a Uber mantém uma base significativa de 30 milhões de usuários no país, tendo superado os níveis pré-pandemia. A combinação dessas bases de usuários representa um potencial enorme para ambas as empresas expandirem seus serviços.
Diego Barreto, CEO do iFood, ressaltou que a parceria deve "impulsionar mais pedidos aos restaurantes, mercados, farmácias e conveniência em geral; gerar mais renda aos entregadores e motoristas e simplificar a vida dos consumidores".

Imagem: linkedin.com | Diego Barreto, CEO do iFood ao lado do Dara Khosrowshahi, CEO da Uber

Imagem: linkedin.com | Tela dos aplicativos com as opções de entrega no app da Uber e de pedido de corridas no iFood
O contexto competitivo e a resposta à concorrência
Esta aliança estratégica acontece em um momento de aquecimento do setor, com a entrada de novos players e investimentos significativos:
A chinesa Meituan anunciou seu aplicativo de delivery Keeta para o mercado brasileiro, com um investimento previsto de R$ 5,6 bilhões nos próximos cinco anos e a geração de cerca de 100 mil empregos indiretos.
A Rappi anunciou um aporte de R$ 1,4 bilhão no Brasil e uma estratégia agressiva de taxa zero para restaurantes, buscando ampliar sua participação de mercado.
A plataforma 99 (controlada pela chinesa Didi) declarou investimentos de R$ 1 bilhão e o lançamento do 99Food, previsto para meados deste ano.
A união entre Uber e iFood pode ser interpretada como uma resposta direta a esse movimento de competidores.
Vale lembrar que a Uber já operou no segmento de delivery de alimentos com o Uber Eats, mas encerrou a operação no Brasil em 2022, quando o iFood já dominava o setor.
O que muda para os consumidores
Para os usuários, a principal vantagem será a conveniência. Não será mais necessário alternar entre aplicativos para pedir comida ou solicitar uma corrida. Isso deve simplificar a experiência digital e potencialmente reduzir o tempo gasto em tarefas cotidianas.
Por enquanto, os programas de fidelidade continuarão separados - o Uber One e o Clube iFood seguirão operando individualmente, embora as empresas tenham sinalizado a possibilidade de explorar iniciativas conjuntas nessa área no futuro próximo.
É importante destacar que alguns serviços permanecerão exclusivos de cada plataforma:
O Uber Direct (entregas para empresas) e o Uber Flash (entrega de pacotes) seguirão disponíveis apenas no aplicativo da Uber.
Os serviços de logística do iFood para parceiros e o "Sob Demanda" continuarão operando sem alterações.
O impacto econômico das plataformas
A relevância econômica dessas empresas é significativa. O iFood ajudou a movimentar aproximadamente 0,5% do PIB brasileiro em 2023, segundo estudo da Fipe. Além disso, conta com um ecossistema formado por 360 mil entregadores conectados e 400 mil estabelecimentos parceiros.
A Uber, por sua vez, gerou R$ 36 bilhões de valor para a economia brasileira em 2021, considerando recursos repassados aos motoristas parceiros e o impacto em outras atividades econômicas.
Perspectivas futuras para o setor
A tendência de integração de serviços em grandes plataformas digitais deve se intensificar nos próximos anos. O movimento de Uber e iFood reflete uma estratégia vista em mercados maduros como China e Índia, onde os chamados "super apps" concentram múltiplos serviços em uma única interface.
Para as empresas, a parceria representa uma oportunidade de aumentar o engajamento dos usuários e diversificar fontes de receita. Para os consumidores, significa mais conveniência e potencialmente melhores ofertas, à medida que a competição se acirra.
A parceria entre Uber e iFood marca um momento importante na evolução do mercado de aplicativos de serviço no Brasil. Ao unir forças, as duas maiores plataformas em seus respectivos segmentos criam uma proposta de valor diferenciada para enfrentar a crescente concorrência, especialmente com a chegada de grandes players internacionais.
Para os usuários, a integração promete trazer mais praticidade ao dia a dia. Para o mercado, sinaliza uma nova fase de competição que provavelmente trará mais inovações e benefícios aos consumidores nos próximos meses.
Resta acompanhar como os concorrentes responderão a esta movimentação e como os órgãos reguladores avaliarão o impacto da união entre duas empresas líderes em seus segmentos no mesmo ecossistema digital brasileiro.
Fonte: InfoMoney | TecMundo | MobileTime