Você compraria um iPhone sabendo que está colocando dinheiro no bolso da Samsung? Por mais surpreendente que pareça, essa é exatamente a realidade por trás dos bastidores da indústria tecnológica.

Enquanto Apple e Samsung brigam publicamente em tribunais e trocam provocações em comerciais, existe uma parceria silenciosa que movimenta valores astronômicos. Samsung fatura aproximadamente US$ 110 por cada iPhone vendido, um negócio que rende mais à empresa coreana do que suas próprias vendas do Galaxy.

A verdade escondida por trás dos componentes do iPhone

A Samsung fornece cerca de 40% dos componentes internos que fazem seu iPhone funcionar. Estamos falando das telas OLED de alta qualidade, chips de memória avançados e módulos sofisticados de câmera que você usa todos os dias.

Essa dependência não aconteceu por acaso. A Samsung domina tecnologias específicas que a Apple simplesmente não consegue produzir sozinha. As telas OLED são um exemplo perfeito: quando a Apple decidiu abandonar o LCD no iPhone X, apenas a Samsung tinha capacidade de produzir displays OLED na escala e qualidade necessárias.

O resultado? Uma análise da consultoria Counterpoint Technology revelou que a Samsung ganha cerca de US$ 4 bilhões a mais vendendo componentes para a Apple do que com seus próprios smartphones Galaxy S8.

Os números que revelam o tamanho dessa parceria

Com a Apple vendendo aproximadamente 230 milhões de iPhones em 2024, essa colaboração silenciosa movimentou mais de US$ 25 bilhões entre as duas empresas. Para colocar isso em perspectiva, esse valor supera o PIB de muitos países.

A Samsung fatura mais por iPhone vendido do que muitas empresas faturam com produtos próprios. Cada unidade do iPhone que sai das lojas representa US$ 110 direto para os cofres da empresa coreana.

Mas a dependência vai além das telas. A Samsung também fornece chips de memória NAND, baterias, capacitores e outros componentes críticos. Recentemente, rumores indicam que até os sensores de câmera do futuro iPhone 18 podem vir da Samsung.

iPhone dobrável: Samsung lucra ainda mais

A situação fica ainda mais interessante quando olhamos para o futuro. O iPhone dobrável da Apple, previsto para 2026, será produzido com telas fornecidas exclusivamente pela Samsung Display.

As estimativas apontam para um preço entre US$ 2.000 e US$ 2.500 por unidade, com produção inicial de 15 milhões de dispositivos no primeiro ano. Isso representa uma nova fonte de receita bilionária para a Samsung.

A Samsung Display inclusive adaptou uma fábrica em Asan, na Coreia do Sul, exclusivamente para atender a demanda da Apple. O acordo deve durar anos, já que outras empresas ainda enfrentam dificuldades para igualar os padrões de produção e volume necessários.

Por que a Apple depende tanto da Samsung

A resposta está na qualidade e na escala. A Samsung investe bilhões em pesquisa e desenvolvimento, mantendo-se na vanguarda tecnológica em áreas específicas. Suas telas OLED consomem até 75% menos energia que tecnologias concorrentes, e a empresa consegue produzir milhões de unidades mantendo padrões rigorosos de qualidade.

A Apple até tenta diversificar seus fornecedores. Empresas como LG Display e BOE também fornecem componentes, mas frequentemente enfrentam problemas de qualidade ou capacidade. Quando a BOE falhou nos testes de qualidade para o iPhone 15, a Apple foi obrigada a recorrer ainda mais à Samsung.

A gigante de Cupertino também investe em tecnologia própria. Planeja usar telas microLED próprias no Apple Watch e quer reduzir a dependência de fornecedores externos. Mas essa transição é gradual e custosa.

Marketing versus realidade dos negócios

Enquanto o marketing vende rivalidade feroz entre as duas empresas, a realidade empresarial mostra cooperação estratégica. A Samsung não se preocupa com a chegada do iPhone dobrável - pelo contrário, vê isso como mais uma oportunidade de faturamento.

"Ter outra empresa global se juntando a esta categoria é bom para a indústria e para o consumidor", declarou Choi Won-Joon, presidente da Samsung, demonstrando como a empresa enxerga a situação

A parceria beneficia ambos os lados. A Apple obtém componentes de qualidade superior, enquanto a Samsung garante receita estável e previsível. Com contratos de longo prazo, a empresa coreana pode investir em novas tecnologias sabendo que terá mercado garantido.

O futuro da parceria

As projeções indicam que essa relação deve se intensificar. A Apple planeja expandir o uso de telas OLED para toda a linha iPhone 17, com possível exclusividade para painéis M14 da Samsung, que oferecem brilho de até 3.000 nits.

Além disso, MacBooks com tela OLED estão previstos para 2026, representando mais uma oportunidade para a Samsung Display. A empresa também pode fornecer sensores de imagem de três camadas para câmeras futuras.

Essa interdependência revela uma verdade fundamental sobre a indústria tecnológica: por trás da competição pública existe uma complexa rede de parcerias que torna as empresas mais conectadas do que aparentam.

No final das contas, quando você compra um iPhone, está participando de um ecossistema onde rivalidade e cooperação coexistem. A Samsung continuará lucrando com cada iPhone vendido, enquanto desenvolve produtos que competem diretamente com a Apple. É o capitalismo moderno em sua forma mais sofisticada: competir e colaborar simultaneamente.