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Tecnologia
A coreografia perfeita entre robôs e espelhos no videoclipe "Love"
A banda OK Go usou 29 robôs e 60 espelhos para criar um dos videoclipes mais inovadores
28/04/2025, 20:20
Quando a tecnologia se torna arte
Há bandas que fazem sucesso com hits radiofônicos. Há outras, como o OK Go, que transformam cada música em uma experiência visual. Se você já se maravilhou com coreografias em esteiras ou máquinas de Rube Goldberg em seus clipes, prepare-se: em "Love", a banda elevou a aposta. Usando 29 robôs colaborativos e 60 espelhos, eles criaram um labirinto de reflexos infinitos que desafia a física e a criatividade. Como será que conseguiram sincronizar tanta tecnologia sem perder a emoção da música?
Robôs como coreógrafos
O clipe de "Love" não é apenas uma música com imagens bonitas: é um balé robótico filmado na Estação Ferroviária de Kelenföld, em Budapeste. Para criar a ilusão de infinitas reflexões, a equipe precisou de precisão milimétrica. "Dois espelhos paralelos geram reflexões infinitas, mas se estiverem desalinhados por 0,01 graus, a magia se quebra", explica Miguel Espada, co-diretor do projeto.
A solução? Robôs industriais reprogramados para atuar como dançarinos. Cada um dos 29 robôs (fornecidos pela Universal Robots) foi equipado com sensores de colisão e garras personalizadas para mover espelhos de até 2,5 metros. A sincronização com a batida da música (92 BPM) foi tão crucial quanto a coreografia da banda.
Frio, trens e 39 tentativas
Filmado em pleno inverno húngaro, o set enfrentou temperaturas de 1,5°C – um problema para equipamentos eletrônicos e humanos. "Os robôs precisavam recalibrar trajetórias a cada tomada devido às variações térmicas", revela Damian Kulash, vocalista. Além disso, vibrações de trens próximos exigiam algoritmos de ajuste em tempo real.
Foram 39 takes até o resultado final. Em um deles, um espelho quebrou durante uma cena crítica, obrigando a equipe a reiniciar toda a coreografia. "Cada erro custava horas de preparo", comenta Kulash.
Imagens: universal-robots.com
Por que Budapeste?
A escolha da estação desativada não foi aleatória. Seus arcadas altas e superfícies reflexivas potencializaram o efeito dos espelhos. "Queríamos um espaço que parecesse ao mesmo tempo grandioso e abandonado, como um templo esquecido", explica Aaron Duffy, co-diretor.
A locação também permitiu jogos de perspectiva únicos. Em uma cena, os robôs formam um dodecaedro ao redor do baterista, distorcendo o espaço como um caleidoscópio vivo.
Tecnologia a serviço da arte
Apesar da complexidade técnica, o clipe mantém a calor humano característica do OK Go. "Os robôs não substituem pessoas; eles amplificam nossa capacidade de contar histórias", reflete Kulash. A letra, que fala sobre amor como "a única música que já existiu", ganha camadas quando os espelhos multiplicam gestos e expressões.
O resultado? Uma metáfora visual sobre como conexões humanas podem criar universos inteiros – mesmo quando mediadas por máquinas.
O legado de "Love"
Além de viralizar com 6,5 milhões de visualizações em 2 semanas, o clipe teve influência desde campanhas publicitárias até filmes de Hollywood. Técnicas desenvolvidas para ele foram usadas em cenas de Doctor Strange no Multiverso da Loucura (2022).
Para fãs de tecnologia, porém, o maior legado é a prova de que robótica e criatividade não são opostos. "Esses equipamentos são ferramentas, como pincéis ou guitarras", define Espada.
Uma obra que convida à reflexão (Literalmente)
Assistir a "Love" é como mergulhar em um sonho lúcido: cada reflexo revela novas camadas de significado. Mais do que um clipe, é uma declaração de amor à inovação. Se você ainda não viu, se prepare para questionar o que é real e o que é ilusão.
E se ficou curioso sobre como 29 robôs dançam em sincronia, há um detalhe revelador nos créditos finais: o making-of foi gravado com óculos Ray-Ban Meta, mostrando a produção pelo olhar da própria banda. A tecnologia, afinal, também sabe ser íntima.
Fonte: Rolling Stone