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Startup francesa vende convites de casamento para estranhos
Startup francesa permite casais venderem ingressos de casamento para estranhos.
08/08/2025, 21:45
Casamentos sempre representaram momentos íntimos, reservados apenas para familiares e amigos próximos. Contudo, uma startup francesa está mudando completamente essa dinâmica tradicional. A Invitin criou uma plataforma que permite aos noivos venderem ingressos para que completos desconhecidos participem do seu grande dia.
A história por trás da Invitin
A ideia surgiu de forma bastante espontânea. Katia Lekarski, ex-modelo e atual fundadora da startup, estava alugando sua casa no sudeste da França para convidados de um casamento quando sua filha de cinco anos fez uma pergunta simples: "Por que nunca somos convidadas para casamentos?". Essa questão inocente despertou em Lekarski a vontade de democratizar essas celebrações.
Em agosto de 2024, Lekarski desenvolveu o conceito da Invitin. A plataforma foi lançada oficialmente em março de 2025, funcionando como uma espécie de "Tinder de convidados" misturado com Airbnb. Através do aplicativo, casais podem disponibilizar vagas em seus casamentos, enquanto interessados navegam por um mapa interativo escolhendo quais celebrações querem participar.
Como funciona o sistema de venda de ingressos
O processo é surpreendentemente organizado. Os noivos cadastram seus eventos na plataforma, incluindo detalhes sobre local, data e atmosfera da festa. Os candidatos a convidados criam perfis, que podem ser visualizados e analisados pelos casais antes da aprovação.
Os ingressos custam entre 100 e 150 euros (aproximadamente R$ 637 a R$ 955), podendo chegar até 400 euros dependendo do local e exclusividade do evento. A Invitin fica com uma comissão de 15% a 20% sobre cada venda.
Regras claras para os convidados pagantes
A startup estabeleceu normas rigorosas para garantir que a experiência seja positiva para todos os envolvidos. Os convidados pagantes devem:
Seguir rigorosamente o dress code estabelecido pelos noivos
Chegar pontualmente no horário determinado
Consumir álcool com moderação
Não publicar ou compartilhar fotos sem autorização expressa do casal
Se comportar adequadamente durante toda a celebração
Os convidados têm acesso completo ao evento: cerimônia, coquetel, jantar e festa. Presentes são opcionais, mas bem-vindos. Importante destacar que não há obrigação de interação extensiva entre os "penetras autorizados" e os noivos.

Imagem: invitin.fr
Os primeiros casos de sucesso
Jennifer, de 48 anos, e Paulo, de 50, foram pioneiros na utilização do serviço. O casal, que se conheceu em um aplicativo de relacionamentos durante a pandemia, decidiu vender cinco ingressos para seu casamento em uma quinta no campo, a uma hora de Paris.
"Pensamos que poderia ser divertido. Somos extrovertidos e abertos a compartilhar", explicou Jennifer. Para eles, os três homens solteiros contratados ajudariam a equilibrar a lista de convidados, que tinha mais mulheres solteiras.
Outro caso interessante é o de Johanna, de 42 anos, que planeja seu casamento para junho e já abriu dez lugares para desconhecidos. Com orçamento de 35 mil euros, ela viu na proposta uma oportunidade tanto financeira quanto de aventura.
Motivações dos compradores
Laurène, de 29 anos, fabricante de brinquedos, foi uma das primeiras a aderir como convidada pagante. "Não tenho uma família grande, então não vou a muitos casamentos. É ótimo poder experimentar um casamento e tradições diferentes, mesmo que sejam de estranhos", contou.
Para alguns, representa uma oportunidade cultural única. Mariam Fattakhova, cantora de ópera russa que vive na França há três anos, vê no serviço uma forma de "compreender melhor as tradições francesas e aprender a cultura".
O impacto no mercado de casamentos
A Invitin se posiciona na intersecção entre economia da experiência, soluções de financiamento para casamentos e a busca coletiva por conexões autênticas. O conceito reflete três mudanças sociais significativas:
Experiência emocional como serviço: As pessoas buscam vivências significativas, momentos reais de pertencimento em vez de apenas observar através das telas.
Monetização da intimidade: Na economia atual, tudo se torna fonte potencial de renda, incluindo marcos pessoais, desde que a transação pareça autêntica e consensual.
Comunidade sem compromisso: A solidão moderna criou desejo por conexão, mas não necessariamente por vínculos permanentes. A plataforma oferece pertencimento sob demanda.
Desafios e perspectivas futuras
Até agora, seis casamentos foram realizados através da plataforma, principalmente na região parisiense. O maior desafio de Lekarski é encontrar casais dispostos a compartilhar seus casamentos com desconhecidos e pessoas dispostas a pagar por essa experiência.
A fundadora já planeja expandir para o mercado americano e trabalhar com agências de turismo para atrair visitantes estrangeiros, inspirada no modelo da "Join My Wedding" na Índia, que conecta turistas a casamentos tradicionais.
Uma nova tendência social
A proposta da Invitin representa mais do que uma simples solução financeira para casais. Ela simboliza uma transformação nas formas contemporâneas de socialização e celebração. Em uma era onde aplicativos conectam estranhos para diversas atividades, os casamentos emergiram como mais uma experiência compartilhável.
Para casais extrovertidos e abertos a novas experiências, vender ingressos pode representar uma forma de tornar seu grande dia ainda mais especial e memorável. Para os compradores, é a oportunidade de vivenciar momentos únicos de alegria e celebração, conhecer diferentes culturas e tradições.
A startup francesa demonstra como conceitos aparentemente inusitados podem encontrar seu público quando atendem necessidades reais: financiamento de eventos caros, busca por experiências autênticas e desejo de conexões sociais significativas. Resta saber se essa tendência se espalhará para outros países ou permanecerá como uma curiosidade cultural francesa.
Fonte: The Guardian