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Startup apoiada pela Microsoft, fracassou ao simular inteligência artificial
700 engenheiros indianos para simular IA e inflar vendas em 300%
02/06/2025, 19:00
Por trás do fracasso, descobriu-se um esquema que misturou falsa automação, inflação artificial de receitas e uma rede de 700 engenheiros na Índia responsáveis por desenvolver manualmente o que era vendido como obra de inteligência artificial. O caso não apenas enterrou milhões em investimentos, mas expôs os riscos ocultos por trás do hype da IA.
Do "tão fácil quanto pedir pizza" ao Caos
Fundada em 2016, a Builder.ai conquistou investidores como Microsoft e SoftBank com um discurso sedutor: desenvolver aplicativos personalizados usando IA, eliminando a necessidade de programadores humanos. A plataforma "no-code" teria uma assistente virtual, Natasha, capaz de montar softwares como peças de Lego.
Na prática, porém, os pedidos dos clientes eram repassados para uma equipe indiana que codificava tudo manualmente. A "IA" era, na verdade, um sistema de redirecionamento de tarefas, disfarçado por uma interface amigável. Funcionários relataram que a empresa mentiu sobre capacidades técnicas para atrair fundos, enquanto acumulava dívidas de US$ 85 milhões com a Amazon e US$ 30 milhões com a Microsoft.
Receitas Infladas em 300%
Além da falsa automação, a Builder.ai se envolveu em round-tripping — troca de faturas fictícias com a indiana VerSe Innovation entre 2021 e 2024. As empresas emitiam notas por serviços nunca prestados, criando a ilusão de receitas robustas. Esse artifício contábil superestimou vendas em até 300%, enganando credores como a Viola Credit, que injetou US$ 50 milhões em 2023.
Quando a fraude veio à tona, a Viola Credit retirou US$ 37 milhões das contas da startup, deixando-a com apenas US$ 5 milhões — insuficientes para pagar funcionários ou manter operações. O CEO Manpreet Ratia, que assumiu o cargo em março de 2025, admitiu em comunicado interno que as contas nos EUA e Reino Unido estavam "totalmente vazias".
Crise de Liderança e Investigação Internacional
A queda foi acelerada pela saída do fundador Sachin Dev Duggal em 2025, coincidindo com investigações de lavagem de dinheiro na Índia e uma auditoria que revelou práticas contábeis irregulares. Documentos solicitados pelo Departamento de Justiça dos EUA incluíam políticas de faturamento, listas de clientes e detalhes de parcerias — evidências de que a fraude era sistêmica.
Enquanto isso, os 1.500 funcionários enfrentaram demissões em massa, e clientes perderam acesso a aplicativos e dados críticos, já que o código-fonte ficou retido em servidores bloqueados por credores.
Um alerta para o ecossistema de startups
O caso Builder.ai ilustra um padrão perigoso: startups que usam o termo "IA" como isca para investimentos, sem tecnologia real. Em 2024, a Amazon desativou o sistema "Just Walk Out" após descobrir que 1.000 funcionários na Índia revisavam compras supostamente automatizadas. Especialistas alertam que 99% das startups de IA fracassarão até 2026, muitas replicando erros similares.
Para investidores, as lições são claras:
Exigir auditorias independentes de tecnologia e finanças.
Desconfiar de crescimentos explosivos sem base técnica comprovada.
Monitorar práticas de terceirização, especialmente em países com mão de obra barata.
Quando a inovação vira ilusão
A história da Builder.ai não é apenas sobre uma empresa que quebrou — é um sinal de alerta para um setor obcecado por buzzwords. A ânsia por revolucionar mercados com IA levou a decisões precipitadas, negligência em uma das maiores fraudes tecnológicas da década.
Resta a pergunta: quantos "unicórnios" artificiais ainda desmoronarão antes que investidores e consumidores aprendam a separar inovação real de ficção?
Fonte: Financial Express | Exame