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Sistema BRICS Pay transforma pagamentos globais
BRICS Pay promete pagamentos internacionais mais baratos e rápidos usando moedas locais
01/09/2025, 14:45
Nos últimos meses, uma mudança silenciosa mas significativa vem tomando forma no cenário financeiro mundial. Enquanto muitas pessoas ainda dependem do dólar para transações internacionais, um grupo de países emergentes desenvolve uma alternativa que pode mudar completamente nossa forma de fazer negócios além das fronteiras.
Trata-se de uma resposta direta às limitações e custos elevados dos métodos tradicionais, oferecendo uma ponte digital entre economias que, juntas, representam mais de 40% da população mundial.
O que é o BRICS Pay?
O BRICS Pay, também conhecido como "Pix Global", é um sistema de pagamentos digitais descentralizado desenvolvido pelos países do bloco BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos membros como Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. A plataforma surgiu em 2018 através do Conselho Empresarial do BRICS, mas ganhou força recentemente com testes piloto avançados.
Diferentemente dos sistemas tradicionais, esta solução permite que países realizem transações comerciais diretamente em suas moedas locais, eliminando a necessidade de conversão para o dólar americano. Para entender a importância disso, considere que atualmente a maioria das transações internacionais passam pelo sistema SWIFT, controlado por instituições ocidentais e que frequentemente envolve custos elevados e tempos de processamento lentos.
Como funciona a tecnologia por trás do sistema
O coração tecnológico do BRICS Pay é o DCMS (Sistema de Mensageria Cross-Border Descentralizado), desenvolvido por cientistas da Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia. Esta tecnologia opera sem um proprietário central, diferente do SWIFT, onde cada participante gerencia seu próprio nó na rede.
As características técnicas impressionam pela capacidade e eficiência. O sistema pode processar até 20 mil mensagens por segundo, utiliza múltiplos protocolos de criptografia e permite transações sem taxas obrigatórias - cabendo aos participantes decidir se cobram entre si. As mensagens são criptografadas e assinadas digitalmente, garantindo segurança máxima nas operações.
A plataforma integra diferentes tecnologias já existentes nos países membros. No Brasil, conecta-se ao Pix; na Rússia, ao sistema SBP usado por mais de 200 instituições; na China, ao IBPS com transações em yuan; e na Índia, ao UPI em funcionamento desde 2010. Esta integração cria uma rede interoperável onde um brasileiro pode fazer pagamentos na China usando QR Code, da mesma forma como faz no Brasil.
Vantagens práticas para empresas e consumidores
Para empresas que operam no comércio internacional, o BRICS Pay oferece benefícios tangíveis. Primeiro, a redução significativa de custos - enquanto pagamentos transfronteiriços tradicionais podem ter taxas superiores a 11% para consumidores e 1,5% para empresas, o novo sistema promete custos muito menores. Segundo, a velocidade das transações, que podem ser processadas instantaneamente, comparado aos vários dias ou semanas dos métodos convencionais.
Um exemplo prático: uma empresa brasileira exportando soja para a China hoje precisa converter reais em dólares, depois dólares em yuans, pagando taxas em cada conversão e aguardando dias para confirmação. Com o BRICS Pay, a mesma transação aconteceria diretamente entre real e yuan, de forma instantânea e com custos reduzidos.
Para consumidores, especialmente aqueles que viajam entre países do BRICS, o sistema simplifica pagamentos internacionais. Um turista brasileiro na Índia poderia usar seu QR Code habitual para compras, sem depender de câmbio tradicional ou cartões internacionais.
Impactos no cenário econômico global
O projeto visa reduzir a dependência do dólar americano, que atualmente representa mais de 57% das reservas cambiais mundiais.
Esta mudança não passou despercebida pelos Estados Unidos. O presidente Donald Trump já classificou o BRICS como grupo "antiamericano" e ameaçou impor tarifas de até 50% sobre produtos de países alinhados ao bloco. A preocupação americana é compreensível: menos transações em dólar significam menor influência financeira global.
Para países emergentes, o sistema oferece maior autonomia financeira e proteção contra sanções econômicas. A Rússia, por exemplo, busca contornar restrições do SWIFT impostas após a invasão da Ucrânia. O Irã, também sob sanções americanas, considera o BRICS Pay uma prioridade nacional.
Desafios e perspectivas futuras
O BRICS Pay enfrenta obstáculos significativos. Integrar sistemas de países com legislações, moedas e estruturas financeiras distintas representa um desafio técnico e regulatório complexo. Questões tributárias, cambiais e disputas internas, especialmente entre China e Índia, podem atrasar a implementação.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), que secretaria o Conselho Empresarial do BRICS em 2025, esclarece que ainda não existe consenso entre os países-membros sobre a implementação definitiva do sistema. As discussões seguem em caráter exploratório, sem decisão formal de implementação.
Entretanto, as projeções são ambiciosas. Especialistas estimam que até 2030, o BRICS Pay pode movimentar centenas de bilhões de dólares anuais, consolidando-se como principal canal de transações comerciais entre países emergentes. Para o Brasil, setores como agronegócio, energia e mineração podem se beneficiar significativamente, facilitando exportações para China e Índia com custos reduzidos.
O futuro dos pagamentos internacionais
Desde a crise financeira de 2008, países emergentes buscam alternativas ao domínio do dólar, especialmente após episódios onde a moeda americana foi usada como "arma econômica".
Esta transformação não acontece de forma abrupta. A diversificação monetária é um processo lento e progressivo, onde outras moedas gradualmente ganham espaço nas reservas cambiais globais. O BRICS Pay acelera este processo ao oferecer infraestrutura prática para comércio em moedas locais.
Para consumidores e empresas brasileiras, compreender esta mudança é essencial. Embora o sistema ainda esteja em desenvolvimento, suas implicações já começam a moldar o futuro do comércio internacional. A capacidade de realizar pagamentos diretos em reais com parceiros comerciais estratégicos pode reduzir custos operacionais e aumentar a competitividade de produtos brasileiros no mercado global.
Seu sucesso dependerá da coordenação entre países membros e da aceitação do mercado global. Uma coisa, porém, é certa: a era de dependência exclusiva do dólar americano para transações internacionais está chegando ao fim, e o Brasil está posicionado para ser protagonista desta transformação.
Fonte: Tecmundo