O mercado de tecnologia vive um paradoxo perturbador. Enquanto as empresas reportam lucros recordes e anunciam investimentos bilionários em inteligência artificial, milhares de profissionais perdem seus empregos. A Oracle acaba de protagonizar mais um capítulo dessa história contraditória, confirmando a demissão de mais de 300 funcionários nos Estados Unidos em agosto de 2025.

Por que a Oracle está demitindo durante o boom da IA

As demissões na Oracle não são uma coincidência isolada. A gigante de tecnologia está executando uma estratégia fria e calculada: cortar custos com pessoal para liberar capital destinado à aquisição massiva de hardware para inteligência artificial. Os cortes atingiram principalmente as equipes da Oracle Cloud Infrastructure (OCI), incluindo divisões de engenharia empresarial, Fusion ERP, operações de data centers e gerentes de projetos técnicos focados em iniciativas de IA e machine learning.

A explicação é simples, porém brutal. Segundo fontes internas, alguns serviços da OCI mantinham equipes de mais de cem desenvolvedores, mas geravam receita anual suficiente para custear apenas um ou dois salários. Para a Oracle, a matemática era inevitável: eliminar operações insustentáveis e redirecionar esses recursos para o que realmente importa no futuro - a infraestrutura de IA.

Oracle demite mais de 300 funcionários para financiar uma aposta de centenas de bilhões de dólares no projeto Stargate, uma parceria com OpenAI e SoftBank que pode chegar a US$ 500 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos.

A “estratégia” bilionária por trás dos cortes

A Oracle não está apenas cortando custos - está transformando radicalmente seu modelo de negócios. Larry Ellison, fundador e presidente da empresa, tornou-se o segundo homem mais rico do mundo com uma fortuna de US$ 262 bilhões, impulsionado pela valorização de 41% das ações da Oracle só em 2025.

O crescimento explosivo da Oracle no mercado de IA não veio do desenvolvimento de produtos próprios, mas de sua capacidade de fornecer infraestrutura para gigantes como OpenAI, TikTok e xAI de Elon Musk. A empresa se tornou uma "locadora de infraestrutura" para quem realmente desenvolve soluções de inteligência artificial, posicionando-se como fornecedora estratégica em um mercado que movimenta trilhões.

O projeto Stargate e a transformação da Oracle

O projeto Stargate representa a maior aposta da Oracle no futuro da IA. Em parceria com OpenAI, SoftBank e outras empresas, o projeto prevê a construção de data centers com capacidade total de 10 gigawatts - energia suficiente para abastecer milhões de residências americanas.

A primeira fase já está em construção no Texas, onde 10 data centers estão sendo erguidos simultaneamente, com planos de expandir para 20 unidades em breve.

Esse investimento colossal exige recursos financeiros proporcionais, explicando parcialmente a necessidade de demitir mais de 300 funcionários para realocação de capital.

A troca de humanos por GPUs

O que está acontecendo na Oracle vai além das demissões tradicionais. Não se trata de substituir trabalhadores por algoritmos, mas de trocar diretamente capital humano por capital tecnológico - especificamente, por GPUs e outros componentes caros de hardware para IA.

A Oracle adquiriu grandes quantidades de chips da Nvidia no início da corrida pela IA, posicionando-se como fornecedora atrativa para clientes com demandas massivas. Larry Ellison chegou a "implorar" ao CEO da Nvidia, Jensen Huang, por mais GPUs durante um jantar em Palo Alto, acompanhado de Elon Musk.

Impactos globais das demissões na Oracle

As demissões não se limitaram aos Estados Unidos. Fontes indicam que os cortes podem atingir milhares de funcionários globalmente, com a Índia sendo "severamente impactada". A Oracle já havia demitido centenas de trabalhadores em novembro de 2024 e milhares em março de 2025, sinalizando que essa onda de cortes faz parte de uma reestruturação contínua.

Simultaneamente, a empresa está contratando agressivamente para expansão de data centers de IA, mostrando que não há escassez de recursos, mas uma realocação estratégica direcionada a áreas específicas.

O futuro do mercado de trabalho em tecnologia

A estratégia da Oracle espelha uma tendência mais ampla no setor tecnológico. Microsoft, Amazon e Meta também promoveram cortes significativos em 2025, cortando 15.000, 2.000 e 3.600 postos de trabalho respectivamente, mesmo reportando crescimento de receita e lucros.

Essa aparente contradição revela a nova realidade do mercado: as empresas estão priorizando investimentos em IA sobre estabilidade de emprego, apostando que os retornos futuros compensarão os custos humanos atuais.

Oracle demite mais de 300 funcionários enquanto seu fundador se torna bilionário, ilustrando perfeitamente o paradoxo da era da inteligência artificial. Para os profissionais de tecnologia, o recado é claro: a estabilidade do emprego pode depender diretamente da capacidade de gerar receita equivalente ao custo de um rack de servidores de última geração.

A corrida pela dominância em IA está redefinindo as regras do jogo no Vale do Silício. Enquanto as empresas celebram contratos bilionários e valorização recorde de ações, milhares de trabalhadores pagam o preço dessa transformação acelerada rumo ao futuro da computação.