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O rebranding de US$ 700 milhões que durou apenas 7 dias
Cracker Barrel investiu US$ 700 milhões em rebranding que fracassou em uma semana
03/09/2025, 11:15
Um episódio de rebranding mal-sucedido que se tornou um estudo de caso sobre como não conduzir uma transformação de marca. A rede de restaurantes Cracker Barrel gastou impressionantes US$ 700 milhões em uma campanha que não resistiu nem mesmo a uma semana de vida.
A timeline do desastre
O fracasso da Cracker Barrel aconteceu de forma acelerada e publicamente documentada nas redes sociais. A empresa lançou em 19 de agosto de 2025 sua campanha "All the More", apresentando um logotipo minimalista que removeu elementos icônicos da marca.
A mudança eliminou a figura do "Old Timer" ou "Tio Herschel", um homem de macacão sentado ao lado de um barril, presente na identidade visual desde 1977. O novo design mantinha apenas o nome "Cracker Barrel" sobre um fundo amarelo em formato de barril, buscando uma estética mais moderna e simplificada.
A reação foi imediata e devastadora. Em apenas dois dias, as ações da empresa despencaram mais de 10%, fazendo com que a companhia perdesse aproximadamente US$ 100 milhões em valor de mercado. Os clientes expressaram indignação nas redes sociais, classificando o novo visual como "genérico", "sem alma" e "sem graça".




Imagens: dezeen.com
A volta às origens
Sob intensa pressão pública e com as ações em queda livre, a Cracker Barrel anunciou em 26 de agosto – apenas sete dias após o lançamento – que abandonaria o novo logo e retornaria ao design tradicional.
"Agradecemos aos nossos clientes por compartilharem suas vozes e amor pela Cracker Barrel. Dissemos que escutaríamos, e escutamos. Nosso novo logo está saindo de cena e nosso 'Old Timer' permanecerá", declarou a empresa em comunicado oficial.
A reversão completa da decisão foi celebrada por Trump, que parabenizou a empresa: "Parabéns à Cracker Barrel por trazer de volta o logo original. Façam seus clientes felizes novamente!".
O co-fundador contra o rebranding
A situação ficou ainda mais constrangedora quando Tommy Lowe, co-fundador da Cracker Barrel aos 93 anos, criticou publicamente a transformação de US$ 700 milhões.
Em entrevista à emissora local WTVF NewsChannel 5, Lowe classificou o novo logotipo como "lamentável" e "dinheiro jogado na rua".
"O que o Taco Bell entende de comida country?", questionou Lowe, referindo-se à CEO Julie Felss Masino, ex-executiva da rede mexicana. O empresário aconselhou a liderança atual a "manter o estilo country" caso quisesse preservar a clientela.
Lowe relembrou um conselho recebido no início da operação: "Parece bom, mas mantenham o country. Se não mantiverem, não vai dar certo". Suas palavras ganharam peso especial por vir de quem inaugurou o primeiro Cracker Barrel em 1969.
O impacto financeiro do fracasso
Com aproximadamente 70.000 funcionários e 660 lojas, a empresa investiu cerca de US$ 10.000 por funcionário ou mais de US$ 1 milhão por loja em uma campanha que durou exatos sete dias.
Especialistas em branding compararam o episódio à crise da Bud Light em 2023, quando uma campanha publicitária provocou boicote e enormes perdas financeiras. "Como a Bud Light, a Cracker Barrel acabou alienando sua principal base de clientes", observou David E. Johnson, CEO do Strategic Vision PR Group.
As ações da empresa se recuperaram após o anúncio de retorno ao logo original, mas o valor investido na campanha fracassada representa uma perda irrecuperável. A volatilidade do papel refletiu a incerteza dos investidores sobre a capacidade da administração de conduzir mudanças estratégicas.
Os erros estratégicos identificados
Segundo Americus Reed, professor de marketing da Wharton School, o rebranding da Cracker Barrel foi "um erro de marketing de livro didático". O especialista identificou três falhas fundamentais na execução:
Primeiro, a empresa mudou muito rapidamente, sem a gradualidade necessária para alterações de identidade visual. Segundo, não conseguiram criar uma narrativa convincente em torno da mudança, deixando os consumidores preencherem o vazio com indignação. Terceiro, não testaram o redesign com sua base de clientes mais fiéis.
A falta de pesquisa prévia com o público-alvo foi especialmente crítica, considerando que a empresa possui uma clientela tradicionalmente conservadora e apegada aos valores nostálgicos da marca. O desconhecimento sobre as expectativas dos consumidores transformou uma tentativa de modernização em catástrofe empresarial.
Lições sobre gestão de marca e tradição
A resistência do mercado mostrou que modernização não significa necessariamente abandono de elementos históricos. Marcas com décadas de existência carregam valor simbólico que transcende aspectos visuais, representando memórias e experiências dos consumidores.
O episódio também ilustra como questões empresariais podem rapidamente se transformar em debates culturais e políticos, amplificando os riscos de decisões mal planejadas. A intervenção de figuras políticas transformou um problema de marketing em símbolo de resistência cultural.
O fracasso do rebranding da Cracker Barrel serve como alerta para empresas que consideram mudanças radicais em suas identidades visuais. O investimento de US$ 700 milhões em uma campanha de sete dias representa uma das perdas mais rápidas e custosas da história.
A recuperação das ações após o retorno ao logo original demonstra que, quando uma empresa reconhece seus erros rapidamente, pode minimizar danos de longo prazo. Contudo, o valor financeiro perdido e o desgaste da imagem administrativa permanecem como consequências permanentes dessa decisão mal calculada.
Fonte: New York Post