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O alerta do criador do Orkut sobre o que realmente importa
Alerta sobre como redes sociais nos afastam do essencial e revelações focada em conexões genuínas
25/04/2025, 11:45
Nos últimos anos, as plataformas digitais transformaram nossa forma de comunicação, mas será que nos aproximaram do que é essencial? Orkut Büyükkökten, engenheiro por trás da icônica rede social dos anos 2000, acredita que não.
A nostalgia digital e o retorno do orkut
Quem viveu o início dos anos 2000 certamente tem memórias afetivas do Orkut. Aquela interface simples com comunidades, depoimentos e fotos marcou uma geração inteira de brasileiros. O que muitos não sabiam é que por trás desse nome estava um engenheiro turco chamado Orkut Büyükkökten, que batizou a plataforma com seu próprio nome.
Embora já não comande mais uma rede com milhões de usuários, Orkut continua sendo uma voz importante quando o assunto é tecnologia e conexões humanas. Durante sua participação no South Summit Brazil 2025, evento realizado entre 9 e 11 de abril no Cais Mauá, em Porto Alegre, ele trouxe reflexões profundas sobre o papel atual das redes sociais em nossas vidas.
A crítica às redes sociais e desconexão atual
Redes sociais e desconexão formam um paradoxo moderno que Orkut identifica com preocupação. "As redes sociais nos desconectaram daquilo que mais importa", afirmou ele durante seu painel, deixando claro que existe uma contradição fundamental nas plataformas digitais atuais.
Na visão do engenheiro, essas tecnologias que prometeram aproximar pessoas acabaram, ironicamente, afastando os indivíduos das experiências genuínas de contato humano. O que era para ser uma ponte tornou-se, em muitos casos, uma barreira para conexões significativas.
Para comprovar sua tese, Büyükkökten apresentou dados reveladores: em 1990, apenas 14% dos jovens americanos entre 18 e 30 anos declaravam não ter feito sexo no último ano. Em 2018, esse número dobrou, chegando a 28%. Para ele, essa mudança não se explica apenas por questões culturais, mas também pela forma como a interação digital substituiu encontros presenciais.
A gamificação dos relacionamentos humanos
Um ponto central da crítica de Orkut é como os relacionamentos foram transformados em uma espécie de jogo. Aplicativos e redes sociais começaram a tratar as conexões humanas como transações, medidas por curtidas e métricas de engajamento.
"A própria ideia de conexão foi transformada em algo a ser otimizado. Mas relacionamento não é sobre eficiência. É sobre exposição, silêncios, improviso", destacou durante sua apresentação no South Summit.
Essa visão também aparece em entrevistas recentes, onde o engenheiro critica figuras como Elon Musk e Mark Zuckerberg pela maneira como administram suas plataformas. Para Orkut, as redes sociais atuais se afastaram do ideal original de promover conexões autênticas e comunidades saudáveis, priorizando lucro e poder.
O paradoxo da solidão conectada
Os dados apresentados por Büyükkökten durante o South Summit 2025 são alarmantes. Em 2003, apenas 8% dos jovens americanos relataram se sentir frequentemente sós. Em 2025, esse número disparou para mais de 25%, segundo o engenheiro.
Esse fenômeno contraditório – estar cada vez mais conectado digitalmente e, ao mesmo tempo, mais solitário – representa o cerne do problema que Orkut identifica nas redes sociais contemporâneas.
Curiosamente, pesquisas recentes mostram que a desconexão total das redes também não é necessariamente benéfica. Um estudo da Universidade de Durham descobriu que, após uma semana de abstinência digital, os participantes reduziram emoções negativas e tédio, mas sua satisfação com a vida também diminuiu.
Uma nova proposta para o futuro digital
Apesar das críticas, Orkut Büyükkökten não é um tecnofóbico nostálgico. Sua proposta não é voltar ao passado, mas repensar o futuro. "Não quero voltar ao que existia. Quero algo autêntico, que alimente em vez de esvaziar", afirmou.
E ele está trabalhando nisso. Durante o South Summit, o engenheiro revelou estar planejando uma nova rede social focada em "positividade, comunidade e conexão", como declarou em entrevista.
A futura plataforma tentará reverter a lógica atual das redes, onde conteúdos agressivos e violentos ganham destaque. "Hoje em dia, as redes sociais se tornaram um consumo sem pensar. Nós precisamos mudar os hábitos de trocar mensagens, compartilhar e ter interações significativas online, em vez de só assistir a vídeos divertidos", explicou.
A conexão analógica como caminho
Para Büyükkökten, a conexão analógica – o encontro presencial, a conversa sem filtros, a troca imperfeita – continua sendo o caminho mais poderoso para relações significativas. No entanto, ele reconhece que o medo da rejeição, alimentado por uma cultura que valoriza ganhos rápidos e evita perdas, representa um obstáculo significativo.
"Talvez a gente superestime o risco de ser rejeitado e subestime o que pode nascer de uma nova conexão", observou durante sua palestra.
Lições do original Orkut.com
Ao relembrar os anos do Orkut.com, o engenheiro compartilhou que aprendeu muito com os próprios usuários. Mencionou histórias de pessoas que se conheceram na plataforma, reencontraram amigos, formaram famílias e criaram projetos juntos.
"O mais marcante foi ver como era possível fazer novos amigos. Aquilo era sobre comunidades baseadas em valores compartilhados", destacou.
Essa experiência parece ter moldado sua visão sobre o que as redes sociais deveriam ser: ambientes onde o digital não substitui o humano, mas o amplifica, criando oportunidades para conexões genuínas.
Reconstruindo pontes digitais
As reflexões de Orkut Büyükkökten no South Summit Brazil 2025 nos convidam a repensar nossa relação com as redes sociais. Não se trata de abandoná-las completamente, mas de questionar como as utilizamos e que tipo de conexões elas estão realmente promovendo em nossas vidas.
O engenheiro deixa uma mensagem esperançosa: "Se escolhermos a conexão real no lugar da distração, talvez possamos criar algo novo. Com cuidado, compaixão e humanidade". Seu novo projeto de rede social promete seguir esse caminho, resgatando o espírito original das comunidades do Orkut, que buscavam conectar pessoas com interesses em comum.
Em um mundo cada vez mais digital, talvez o verdadeiro desafio seja encontrar o equilíbrio: usar a tecnologia para enriquecer, e não substituir, nossas experiências humanas fundamentais. Como Orkut defendeu, o próximo passo das redes sociais precisa recuperar esse espírito: um ambiente em que o digital não substitua o humano, mas o amplifique.
Fonte: Exame