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Morango do amor de R$ 2.300 tem lista de espera
Morango do amor de luxo vira febre, mas preço levanta debate sobre valor real e hype
05/08/2025, 16:30
O aroma do caramelo queimado, presente em tantas festas juninas, ganhou novas camadas de sofisticação, e de polêmica. Em São Paulo, um confeiteiro aproveitou a febre das redes, em um item cobiçado por famosos e criou um debate: até onde vai o valor de uma experiência gastronômica?
Morango do amor de luxo chega ao ponto de custar até R$ 2.300 a caixa, reúne lista de espera e virou símbolo de status entre influenciadores e artistas. O sucesso meteórico, porém, também levanta questões sobre o peso do marketing e o efeito manada que acompanha produtos considerados “instagramáveis”.
O confeiteiro que virou celebridade
Denilson Lima, maranhense radicado em São Paulo, já trabalhava com bolos artísticos antes de apostar no morango caramelizado. A “Edição Joias” traz de oito a nove frutas cobertas por cremes que vão de brigadeiro belga a maracujá, além de minúsculos detalhes de açúcar que lembram ovos Fabergé. O acabamento artesanal é inegável: cada fruta leva até quatro horas de trabalho manual.
O preparo começa pela seleção de morangos grandes, cultivados em estufas frias no interior paulista. Após lavados e secos, recebem camada dupla de chocolate belga e cremes de ninho ou brigadeiro branco. Só então são envoltos em caramelo crocante e recebem a decoração artística com corante dourado comestível.
As primeiras caixas esgotaram em 48h. Vídeos de Lucas Rangel e Bruna Marquezine provaram ser combustível para o algoritmo: em menos de uma semana, o confeiteiro relatou três meses de pedidos agendados. Esse ciclo de escassez — produção limitada, lista de espera e demonstrações públicas de celebridades — reforça a sensação de exclusividade que costuma sustentar preços altos.

Imagens: f5.folha.uol.com.br
Vale o preço?
1. Preço além do custo
Mesmo com ingredientes de primeira linha, confeiteiros ouvidos por veículos especializados estimam o gasto em cerca de R$ 160 por caixa. A margem, portanto, se concentra no intangível: tempo de execução, assinatura artística e desejo social.
2. Hype ou experiência?
Boa parte da procura nasce do efeito FOMO (“fear of missing out”) amplificado por redes sociais. Quando o produto se torna símbolo de pertencimento a um grupo seleto, o valor de uso se mistura ao valor de exibição — e o sabor pode acabar em segundo plano.
3. Exemplo maior de um fenômeno global
De cafés cobertos com folha de ouro a milkshakes de mais de US$ 100, a gastronomia de luxo frequentemente faz manchetes pelo preço, não necessariamente pela inovação culinária. O morango do amor de luxo replica essa lógica ao pegar um doce e convertê-lo em item de colecionador.
4. Possíveis riscos
Quando as expectativas são guiadas pelo marketing, a decepção pode bater forte: relatos em fóruns gastronômicos já apontam que nem todos consideram o sabor proporcional ao preço cobrado.
Há ainda o risco de consumidores comprarem mais a foto do que a experiência sensorial completa.
Entre sabor, status e escolha pessoal
O morango do amor de luxo acerta ao transformar memória afetiva em arte comestível e criar uma narrativa envolvente. Ao mesmo tempo, põe em destaque como o hype pode inflar preços, deslocando o debate do paladar para o status. No fim, a decisão de pagar R$ 2.300 por uma caixa dependerá do peso que cada pessoa dá ao ritual de abrir o doce — e a disposição de investir não só em sabor, mas em história, reconhecimento social e algumas curtidas extras.