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Como a IA pode prejudicar sua capacidade de pensar

Estudo mostra como IA reduz atividade cerebral e memória, causando "dívida cognitiva" em usuários

25/06/2025, 11:45

Como a IA pode prejudicar sua capacidade de pensar
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Como a IA pode prejudicar sua capacidade de pensar

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Você já se perguntou se usar assistentes de inteligência artificial está mudando a forma como seu cérebro funciona? Uma pesquisa recente do MIT trouxe descobertas que podem te surpreender e até preocupar sobre nosso relacionamento com essas ferramentas.


Pesquisa revela o lado oculto da inteligência artificial na escrita

O cérebro humano é uma máquina complexa que precisa de exercício para se manter ativo e saudável. Quando delegamos tarefas cognitivas para a inteligência artificial, algo interessante – e preocupante – acontece em nível neural.

Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) conduziram um estudo pioneiro para entender como o uso de assistentes de IA afeta nossa atividade cerebral durante tarefas de escrita. O resultado? O surgimento de um conceito chamado "dívida cognitiva".

Durante quatro meses, 54 participantes foram divididos em três grupos distintos. O primeiro grupo utilizou apenas o ChatGPT para escrever ensaios, o segundo contou com ferramentas de busca tradicionais como o Google, e o terceiro escreveu sem qualquer ajuda externa.


Como os cientistas mediram o efeito da IA no cérebro

Para capturar o que acontecia no cérebro dos participantes, os pesquisadores utilizaram eletroencefalografia (EEG) – uma técnica que registra a atividade elétrica cerebral por meio de eletrodos colocados no couro cabeludo.

Durante os 20 minutos de cada sessão de escrita, 32 sensores captavam sinais neurais em tempo real, revelando padrões de conectividade entre diferentes regiões cerebrais. Essa abordagem permitiu aos cientistas observar como o esforço cognitivo variava entre os grupos.

Os resultados da eletroencefalografia foram impressionantes. O grupo que escreveu sem ajuda apresentou a maior conectividade neural, especialmente nas ondas alfa, teta e delta – frequências associadas à criatividade, memória ativa e processamento semântico.


O que é dívida cognitiva e por que você deveria se preocupar

A dívida cognitiva funciona como uma dívida financeira: oferece benefícios imediatos, mas cobra um preço alto no futuro. Quando usamos inteligência artificial para escrever, nosso cérebro "relaxa" e reduz o esforço necessário para processar informações profundamente.

O grupo que utilizou ChatGPT apresentou menor atividade nas regiões responsáveis pelo controle executivo e processamento semântico. Essas áreas são fundamentais para o pensamento crítico, criatividade e formação de memórias duradouras.

Além disso, os participantes que dependiam de IA tiveram dificuldade para lembrar do conteúdo que haviam produzido apenas minutos antes. Muitos relataram não se sentir verdadeiros autores dos textos, descritos pelos avaliadores como "sem alma" e "muito parecidos entre si".


A diferença entre usar IA e ferramentas de busca tradicionais

Interessante notar que o grupo que utilizou ferramentas de busca tradicionais como o Google apresentou resultados intermediários. Esses participantes mantiveram maior conectividade neural em comparação aos usuários de IA, mas menor que o grupo que escreveu sem ajuda.

A explicação está no processo cognitivo envolvido. Ao usar o Google, as pessoas precisam pesquisar, ler criticamente, selecionar informações relevantes e organizar o conhecimento de forma coerente. Já com a inteligência artificial, o processo se torna mais passivo – aceitar sugestões prontas sem questionamento profundo.


Quando os grupos mudaram de posição

Na quarta sessão do estudo, os pesquisadores fizeram algo fascinante. Pediram para que metade dos participantes trocasse de método: quem usava IA passou a escrever sem ajuda, e quem escrevia sozinho começou a usar ChatGPT.

Os resultados foram reveladores. O grupo que passou de IA para escrita autônoma (LLM-to-Brain) apresentou conectividade neural mais fraca e dificuldade para se engajar completamente na tarefa. Era como se seus cérebros tivessem "esquecido" como trabalhar sem assistência.

Por outro lado, o grupo que passou da escrita autônoma para o uso de IA (Brain-to-LLM) demonstrou maior capacidade de memória e reativação de redes neurais amplas. Isso sugere que ter uma base sólida de pensamento independente pode proteger contra os efeitos negativos da dívida cognitiva.

Imagem: brainonllm.com | Ondas alfa, associadas à ideação criativa, são mais fortes naqueles que usaram apenas o cérebro — grupo “Brain” na ilustração


Os riscos para estudantes e profissionais jovens

A pesquisa levanta preocupações especiais sobre o uso de inteligência artificial por estudantes e jovens profissionais. Durante a formação acadêmica, é crucial desenvolver habilidades de pensamento crítico, análise e síntese de informações.

Quando essas competências são terceirizadas para sistemas de IA desde cedo, pode haver um comprometimento no desenvolvimento cognitivo a longo prazo. Os pesquisadores alertam que isso pode resultar em diminuição da capacidade de investigação crítica, maior vulnerabilidade à manipulação e redução da criatividade.


Como usar IA de forma inteligente sem prejudicar seu cérebro

Isso não significa que devemos abandonar completamente a inteligência artificial. A chave está em usá-la como uma ferramenta complementar, não substituta do pensamento crítico.

Algumas estratégias incluem escrever um rascunho inicial sem ajuda de IA, usar assistentes apenas para refinar ideias já desenvolvidas, e sempre questionar e revisar sugestões geradas artificialmente. O objetivo é manter seu cérebro ativo e engajado no processo criativo.

Profissionais que trabalham com escrita podem se beneficiar alternando entre períodos de trabalho autônomo e uso assistido de IA, garantindo que as habilidades cognitivas permaneçam afiadas.


O futuro da relação entre humanos e inteligência artificial

Este estudo representa apenas o início de nossa compreensão sobre como a inteligência artificial afeta nossos cérebros. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de estudos longitudinais para entender os impactos de longo prazo no desenvolvimento cognitivo.

À medida que ferramentas de IA se tornam mais sofisticadas e ubíquas, precisamos estabelecer diretrizes para seu uso responsável, especialmente em ambientes educacionais. O desafio será aproveitar os benefícios da tecnologia sem comprometer nossas capacidades mentais fundamentais.

A dívida cognitiva nos lembra que, assim como qualquer dívida, eventualmente precisará ser paga. A questão é: você está disposto a pagar esse preço com sua capacidade de pensar de forma independente e criativa?

Fonte: Brain on LLM | MIT

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