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CBA recua após mentir sobre produtividade de IA
Commonwealth Bank recua e recontrata 45 funcionários após chatbot falhar em reduzir chamadas como prometido
03/09/2025, 21:15
Quando pensamos em perder o emprego para uma máquina que nem sequer funciona direito, a situação se torna ainda mais frustrante. Foi exatamente isso que aconteceu com 45 funcionários do Commonwealth Bank da Austrália (CBA), o maior banco do país, que viveram semanas de incerteza após serem demitidos sob a falsa promessa de que um chatbot de inteligência artificial substituiria seus trabalhos com eficiência.
O Commonwealth Bank da Austrália se viu obrigado a reverter uma decisão controversa que eliminou 45 postos de trabalho em atendimento ao cliente, após descobrir que o sistema de IA implementado não apenas falhou em reduzir o volume de chamadas, como na verdade o aumentou. O episódio expõe os perigos da adoção precipitada de tecnologia sem considerar adequadamente suas limitações reais.
A promessa que não se cumpriu
Em julho de 2025, o CBA anunciou que cortaria 45 empregos de atendimento ao cliente, alegando que seu novo "voice bot" havia reduzido o volume de chamadas em 2 mil por semana. A justificativa parecia sólida: se o chatbot conseguia lidar com mais consultas automaticamente, os funcionários se tornavam desnecessários.
Contudo, a realidade mostrou-se completamente diferente. Os funcionários demitidos relataram ao Finance Sector Union (FSU) que o volume de chamadas estava, na verdade, aumentando durante o período. A situação ficou tão crítica que o banco precisou oferecer horas extras aos funcionários restantes e até mesmo direcionar gerentes para atender ligações junto às equipes.
Intervenção sindical expõe a farsa
O FSU, principal sindicato dos serviços financeiros da Austrália, não aceitou a explicação do banco passivamente. A organização levou o caso ao tribunal de relações trabalhistas, acusando o CBA de não fornecer justificativa adequada para tornar os cargos redundantes.
Durante as investigações, descobriu-se que o banco estava simultaneamente contratando para posições similares na Índia, sugerindo que o chatbot pode ter sido usado como pretexto para terceirizar empregos sob o disfarce de automação. O sindicato argumentou que se tratava de uma tentativa cínica de corte de custos mascarada como inovação tecnológica.
Admissão de erro e pedido de desculpas
Sob pressão do tribunal, o Commonwealth Bank da Austrália admitiu oficialmente ter cometido um "erro" em sua avaliação. Em comunicado, o banco reconheceu que "não considerou adequadamente todas as considerações comerciais relevantes" e que "esse erro significou que os cargos não eram redundantes".
O CBA pediu desculpas aos funcionários afetados e ofereceu três opções: retorno às posições originais, transferência para outras funções internas, ou recebimento do pacote de demissão originalmente oferecido. O banco também se comprometeu a revisar seus processos internos para evitar erros similares no futuro.
Impacto humano das decisões precipitadas
O FSU classificou a reversão como uma "vitória massiva", mas enfatizou que o dano já estava feito. Muitos dos 45 funcionários, alguns com décadas de serviço no banco, enfrentaram semanas de estresse e incerteza sobre suas condições financeiras.
Julia Angrisano, secretária nacional do FSU, destacou que tentar apresentar cortes de empregos como inovação é uma estratégia cínica que os trabalhadores reconhecem facilmente.
O sindicato observou que muitos funcionários podem optar por não retornar, dados os danos causados pelo tratamento recebido.
Tendência global de substituição por IA
O caso do Commonwealth Bank da Austrália ocorre em um contexto mais amplo de transformação tecnológica no setor financeiro. Análises da Bloomberg Intelligence sugerem que bancos globais podem eliminar até 200 mil posições nos próximos três a cinco anos devido à automação.
Estatísticas mostram que chatbots bancários já lidam com 70-85% das consultas recebidas por bancos de varejo na América do Norte, com taxas de precisão alcançando 91%. Contudo, o episódio do CBA demonstra que a implementação inadequada pode ter consequências severas tanto para funcionários quanto para a qualidade do atendimento.
Lições para o futuro da automação
Este episódio serve como um alerta para outras instituições que consideram substituições similares. A adoção de IA requer análise cuidadosa das capacidades reais da tecnologia, não apenas das promessas de fornecedores ou projeções otimistas internas.
O Commonwealth Bank da Austrália continua investindo mais de 2 bilhões de dólares australianos em tecnologia e recentemente firmou parceria com a OpenAI para desenvolver ferramentas de IA mais avançadas. O CEO Matt Comyn admitiu que as implicações de longo prazo da IA para o emprego ainda são incertas e levará anos para descobrir todo o potencial da tecnologia.
A experiência mostra que, embora a automação possa trazer benefícios genuínos, a pressa em implementar mudanças sem considerar adequadamente fatores humanos e operacionais pode resultar em decisões custosas tanto financeiramente quanto em termos de reputação. Para funcionários e sindicatos, o caso demonstra a importância da organização coletiva para questionar decisões corporativas que afetam meios de subsistência baseadas em justificativas tecnológicas questionáveis.
Fonte: ARS Technica