O mundo da filantropia testemunhou um dos maiores compromissos da história recente quando Bill Gates anunciou que doará praticamente toda sua fortuna pessoal. Em um anúncio que surpreendeu muitos, mesmo aqueles acostumados com sua generosidade, o cofundador da Microsoft declarou sua intenção de abrir mão de 99% de seu patrimônio nos próximos 20 anos, direcionando aproximadamente US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1,1 trilhão) para causas humanitárias através da Gates Foundation. 

A promessa de doação que mudará milhões de vidas 

Bill Gates confirmou na quinta-feira (08/05/2025) que destinará quase toda sua fortuna pessoal, para ajudar as pessoas mais necessitadas ao redor do mundo. Esta decisão histórica marca uma aceleração significativa nos planos filantrópicos do bilionário, que originalmente previa que sua fundação continuasse operando por décadas após sua morte. Agora, Gates estabeleceu uma data específica para encerramento: 31 de dezembro de 2045. 

"As pessoas dirão muitas coisas sobre mim quando eu morrer, mas estou determinado que 'ele morreu rico' não será uma delas. Há problemas demais para resolver para que eu retenha recursos que poderiam ser usados para ajudar pessoas", declarou Gates em comunicado oficial. 

O impacto dos US$ 200 bilhões na saúde global 

O montante impressionante de US$ 200 bilhões será direcionado principalmente para três frentes prioritárias definidas pela fundação: reduzir mortes evitáveis de mães e crianças, combater doenças infecciosas como malária e poliomielite, e ajudar países a saírem da pobreza extrema, com foco especial em melhorar a educação. 

A Fundação Gates já possui um histórico notável de resultados. Desde sua criação há 25 anos, a instituição investiu cerca de US$ 100 bilhões para ajudar a reduzir a taxa de mortalidade infantil global através de inovações médicas, como o desenvolvimento e distribuição de vacinas contra doenças como diarreia e pneumonia. 

"Ao decidir gastar todo esse dinheiro nos próximos 20 anos, podemos realizar muito mais", explicou Gates em entrevista recente. Ele se mostrou confiante de que os recursos salvarão "dezenas de milhões de vidas". 

A evolução da fundação Gates 

Criada em 2000 por Bill e sua então esposa Melinda French Gates, a fundação está celebrando seu 25º aniversário este ano. Durante este período, tornou-se um dos principais atores no cenário da saúde global, com um orçamento anual que deverá atingir US$ 9 bilhões até 2026 (aproximadamente a R$ 51 bilhões). 

A instituição construiu uma reputação única por sua capacidade de formar parcerias estratégicas com governos e empresas, direcionando investimentos consideráveis para pesquisa científica e desenvolvimento de novas tecnologias voltadas ao bem social. Um dos diferenciais da fundação é sua abordagem para reduzir o custo de tratamentos médicos, tornando-os acessíveis para países de baixa e média renda. 

Gates revelou que testemunhou pessoalmente o impacto transformador que a distribuição de vacinas para doenças como diarreia e pneumonia pode ter. É por isso que está determinado a "dobrar a aposta" e acelerar seus esforços filantrópicos. 

Um movimento de generosidade entre bilionários 

Em 2010, Bill e Melinda Gates, junto com o investidor Warren Buffett, lançaram a iniciativa "The Giving Pledge", com o objetivo de incentivar as pessoas mais ricas do mundo a doarem pelo menos metade de suas fortunas para causas filantrópicas, seja durante a vida ou em testamento. 

O que começou como uma promessa cresceu e se tornou uma comunidade global que ativamente conecta filantropos entre si e com agentes de mudança em setores críticos, promovendo aprendizado e engajamento profundo para impulsionar o progresso nas questões mais urgentes ao redor do mundo. 

Desde seu lançamento, mais de 240 dos mais ricos filantropos do mundo, de 30 países diferentes, aderiram a esta promessa. Entre os signatários notáveis estão nomes como Elon Musk, Mark Zuckerberg, MacKenzie Scott e o próprio Warren Buffett, que também anunciou que doará 99% de sua fortuna – estimada em US$ 161 bilhões (aproximadamente R$ 915,4 bilhões) – para causas sociais. 

Críticas aos cortes na ajuda humanitária e confronto com Elon Musk 

Gates expressou sérias preocupações com os recentes cortes na ajuda externa e financiamento humanitário por parte dos Estados Unidos e países europeus. Ele alertou que esses cortes podem ter consequências devastadoras, especialmente para crianças em países pobres. 

"Em vez de reduzirmos de 5 milhões para 4 milhões o número de crianças que morrem anualmente nos próximos cinco anos, com esses cortes, se não forem revertidos, esse número subirá para mais de 6 milhões. Ou seja, em vez de diminuir, voltaremos a aumentar", advertiu. 

Em uma crítica direta a Elon Musk, que lidera o Departamento de Eficiência Governamental na administração Trump, Gates declarou: 

"A imagem do homem mais rico do mundo matando as crianças mais pobres do mundo não é bonita". Ele referia-se aos cortes significativos na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que anteriormente proporcionava bilhões em financiamento para vacinas infantis e assistência alimentar de emergência. 

O futuro da filantropia e o legado de Bill Gates

Gates, que completará 70 anos no próximo outono, descreveu essa mudança como o início do "último capítulo" de sua carreira. A decisão de acelerar seus planos filantrópicos reflete um senso de urgência diante dos desafios globais. 

"Gostaria de ter ainda mais tempo. Mas tenho que dizer: 'OK, esta é a última parte da minha vida. Sou um administrador desses recursos'", compartilhou Gates. "Devo garantir que seja bem gasto. E agora este é o estágio final de tudo isso". 

Quando questionado se sentirá falta de sua fortuna bilionária, Gates riu e respondeu: "Não, não sentirei. Espero ainda estar vivo quando terminarmos os 20 anos, mas vou guardar um pouco para poder comprar hambúrgueres sempre que precisar". 

A decisão de Bill Gates de doar praticamente toda sua fortuna marca um momento significativo na história da filantropia. Além do impacto direto que os US$ 200 bilhões terão na saúde global e no combate à pobreza, seu exemplo poderá inspirar outros bilionários a seguirem um caminho semelhante. 

No entanto, Gates também alertou que nenhuma organização filantrópica – mesmo uma tão grande quanto a Fundação Gates – pode preencher a lacuna de financiamento que está surgindo devido aos cortes governamentais em ajuda internacional. "Não está claro se os países mais ricos do mundo continuarão a defender seus cidadãos mais pobres", observou. 

Gates ainda ficará com aproximadamente US$ 1,13 bilhão (aproximadamente R$ 6,6 bilhões) – um valor que, embora considerável para a maioria das pessoas, representa apenas 1% de seu patrimônio atual.  

Esta mudança drástica reflete uma filosofia que Gates herdou de sua mãe, Mary Gates, que faleceu em 1994 e acreditava firmemente no princípio de que "a quem muito é dado, muito é esperado". 

Através dessa decisão histórica, Bill Gates não apenas redefiniu seu próprio legado, mas também estabeleceu um novo padrão para a responsabilidade social entre os ultra-ricos do mundo. Sua visão é clara: usar sua riqueza extraordinária para enfrentar os problemas mais urgentes da humanidade enquanto ainda está vivo para ver o impacto. 

O que podemos aprender com este exemplo de generosidade 

A decisão de Bill Gates nos convida a refletir sobre o verdadeiro propósito da riqueza e o impacto que podemos ter no mundo, independentemente dos recursos que possuímos. Em um momento em que as desigualdades globais continuam crescendo, exemplos de generosidade em grande escala podem inspirar ações semelhantes em todas as camadas da sociedade. 

O legado que Bill Gates está construindo vai muito além dos edifícios que levam seu nome ou das tecnologias que ajudou a criar. Seu maior impacto poderá ser medido nas vidas salvas, nas doenças erradicadas e nas oportunidades criadas para milhões de pessoas ao redor do mundo. 

Como ele mesmo expressou, seu sonho é que "quando as pessoas lerem a palavra 'malária', elas se perguntem o que era isso" – um testemunho poderoso do potencial transformador que a filantropia estratégica e comprometida pode ter em nosso mundo.