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O dev com 4 empregos
Engenheiro indiano trabalhou em múltiplas startups simultaneamente ganhando US$ 800 mil anuais até ser exposto
10/07/2025, 20:45
Você acredita que alguém conseguiria trabalhar em cinco empresas diferentes ao mesmo tempo sem ninguém perceber? Pois essa é exatamente a história que sacudiu o mundo da tecnologia nos últimos dias. O nome Soham Parekh se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, não por ter criado uma startup bilionária, mas por ter conseguido algo que muitos consideravam impossível: manter múltiplos empregos simultâneos em algumas das startups mais promissoras do Vale do Silício.
O escândalo que abalou o Vale do Silício
Soham Parekh, engenheiro de software indiano de 24 anos, transformou o trabalho remoto em uma verdadeira operação de múltiplas identidades. Durante anos, ele conseguiu manter empregos simultâneos em até seis startups diferentes, acumulando uma renda estimada em US$ 800 mil anuais.
O caso veio à tona no dia 2 de julho de 2025, quando Suhail Doshi, co-fundador da Mixpanel e fundador da Playground AI, fez um alerta público no X (antigo Twitter) que mudaria tudo:
"Alerta: há um cara chamado Soham Parekh (na Índia) que trabalha em 3-4 startups ao mesmo tempo. Ele tem atacado empresas YC e outras. Cuidado".
A postagem explodiu nas redes sociais, acumulando mais de 22 milhões de visualizações e desencadeando uma avalanche de revelações similares de outros fundadores.
Entrevistas perfeitas, execução problemática
O que mais impressiona no caso é como Parekh conseguia passar nas entrevistas. Vários fundadores relataram que ele se destacava entre dezenas de candidatos, sendo considerado um "candidato do percentil". Arkadiy Telegin, co-fundador da Leaping AI, chegou a entrevistar 50 pessoas em duas semanas, mas nenhuma se comparava a Parekh.
"Ele realmente arrasou na minha entrevista. Passou, de longe, por todas as pessoas que entrevistei", relatou Telegin.
A arte da manipulação emocional
Parekh desenvolveu um sistema sofisticado para justificar sua baixa produtividade e ausências frequentes. Ele criava desculpas elaboradas que incluíam:
Problemas familiares fabricados
Emergências médicas falsas
Alegações de estar em zonas de conflito militar
Equipamentos quebrados e quedas de energia constantes
Um dos casos mais chocantes envolveu a manipulação da Operação Sindoor, conflito militar entre Índia e Paquistão. Parekh chegou a enviar mensagens falsas alegando que "drones foram abatidos a 10 minutos de distância" e que havia "danos em um prédio perto de casa". O problema? Ele estava em Mumbai, a mais de 1.000 quilômetros da zona de conflito real.
140 Horas semanais de trabalho
Em entrevista ao programa TBPN, Parekh finalmente admitiu as acusações. Suas revelações foram surpreendentes:
"Não me orgulho do que fiz. Isso não é algo que eu endosso. Mas ninguém realmente gosta de trabalhar 140 horas por semana. Tive que fazer isso por necessidade financeira extrema".
Parekh descreveu sua rotina como "serial não-dorminhoco", insistindo que fazia todo o trabalho pessoalmente, sem terceirizar ou usar inteligência artificial. Ele começou essa prática em 2022, antes mesmo das ferramentas de IA se tornarem amplamente disponíveis.
O perfil falso que enganou gigantes
O currículo de Parekh parecia impecável à primeira vista:
Bacharel em Engenharia de Computação pela Universidade de Mumbai com GPA de 9,83/10
Mestrado em Ciência da Computação pelo Georgia Institute of Technology
Experiência em empresas como Meta, Synthesia, DynamoAI e Union.ai
No entanto, investigações posteriores revelaram que aproximadamente 90% do conteúdo era falso. O próprio Georgia Institute of Technology confirmou que nunca teve um aluno com esse nome.
Startups confirmadas
Pelo menos dez empresas confirmaram ter contratado e demitido Parekh após descobrir seu esquema:
Playground AI - demitido na primeira semana
Antimetal - primeiro engenheiro em 2022
Lindy - contratado e demitido em poucos dias
Fleet AI - trabalhou por anos
Create - contratado como engenheiro
Leaping AI - oferecido pacote de US$ 150-200 mil mais equity
O impacto financeiro
Marcus Lowe, co-fundador da Create, pagou a Parekh US$ 150 mil como contratado independente, mas o engenheiro apareceu fisicamente no escritório apenas uma vez. Outros fundadores relataram pagamentos similares por trabalho que nunca foi entregue adequadamente.
Fenômeno cultural
O caso rapidamente se transformou em um fenômeno cultural, gerando milhares de memes e piadas nas redes sociais. Algumas das mais populares incluíam:
"Microsoft demitiu 9.000 funcionários. Todos eles Soham Parekh"
"Deve ser difícil ser um engenheiro de software desempregado e perceber que Soham Parekh foi contratado 79 vezes nos últimos 4 anos"
Até mesmo CEOs de grandes empresas participaram da festa dos memes, incluindo Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn, que brincou sobre qual seria o cabeçalho do perfil de Parekh na plataforma.
A comunidade secreta do trabalho múltiplo
O caso revelou um movimento muito maior na indústria de tecnologia. A comunidade Reddit r/overemployed, com quase 500 mil membros, documenta estratégias para manter múltiplos empregos remotos simultaneamente.
Estratégias comuns incluem:
Dispositivos para simular movimento do mouse
Bloqueio de calendários como "trabalho focado"
Terceirização de tarefas básicas
Manter perfis profissionais obscuros
Uma pesquisa da Paychex de 2023 revelou que impressionantes 40% dos trabalhadores estavam conciliando dois empregos, sendo que 93% da Geração Z admitiu dividir tempo entre múltiplos empregadores.
Uma nova chance
Apesar da controvérsia, Parekh conseguiu uma nova posição exclusiva na Darwin Studios, uma startup de IA de vídeo. Sanjit Juneja, CEO da empresa, defendeu a contratação:
"Soham é um engenheiro incrivelmente talentoso e acreditamos em suas habilidades para ajudar a levar nossos produtos ao mercado".
Parekh anunciou publicamente seu compromisso com o trabalho exclusivo: "Isso é a única coisa em que vou me focar. Acho que eles apostaram em mim e tenho muito a provar".
Falhas sistêmicas expostas
O caso expôs vulnerabilidades críticas no ecossistema de startups:
Processos de verificação inadequados - Muitas empresas não confirmavam credenciais básicas
Contratação acelerada - A pressão por velocidade comprometia a devida diligência
Supervisão remota deficiente - Falta de sistemas de monitoramento adequados
Verificação de localização - Empresas não confirmavam onde os funcionários realmente estavam
Mudanças necessárias
O escândalo forçou o ecossistema a repensar práticas fundamentais:
Verificações de antecedentes mais rigorosas
Sistemas de monitoramento contínuo
Cláusulas de exclusividade mais claras
Processos de onboarding aprimorados
Perspectivas divididas
O caso gerou debates intensos sobre ética profissional. Enquanto alguns condenaram as ações de Parekh como fraude pura, outros argumentaram que ele simplesmente otimizou o sistema existente.
Defensores apontam que:
Ele entregava trabalho funcional
A necessidade financeira justificava as ações
Executivos frequentemente servem em múltiplas empresas
Críticos enfatizam:
A desonestidade fundamental do esquema
O impacto negativo em startups com recursos limitados
O precedente perigoso estabelecido
O caso Soham Parekh transcende a história de um indivíduo enganando startups. Ele representa um espelho revelador das fragilidades da indústria de tecnologia moderna, onde a velocidade frequentemente supera a prudência, e a confiança pode ser tanto um ativo quanto uma vulnerabilidade.
Soham Parekh forçou uma conversa necessária sobre os limites entre ambição e desonestidade, entre necessidade financeira e fraude profissional. Sua história serve como um lembrete de que, mesmo na era digital, a confiança continua sendo o fundamento de qualquer relação profissional bem-sucedida.
A pergunta que permanece é: quantos outros "Soham Parekhs" existem por aí, navegando silenciosamente pelas águas turbulentas do trabalho remoto? E mais importante: como podemos construir sistemas que protejam tanto empregadores quanto empregados em um mundo cada vez mais distribuído e digital?