
Marketing
Lembram dos mamíferos da Parmalat?
Mamíferos da Parmalat retornam adultos na campanha da NotMilk, misturando nostalgia e humor
08/07/2025, 21:00
Você se lembra daqueles bichinhos fofos da Parmalat que marcaram sua infância? Aquelas crianças vestidas de mamíferos que cantavam uma música que ainda ecoa na memória de uma geração inteira? Pois bem, eles cresceram. E não só fisicamente - cresceram em significado, em propósito e em uma mensagem que toca o coração de milhões de brasileiros que hoje enfrentam desafios que nem imaginavam quando eram pequenos.
A campanha dos mamíferos da Parmalat voltou de uma forma que ninguém esperava. Em 2025, a NotMilk trouxe de volta esses personagens icônicos, mas agora eles são adultos que descobriram algo que muitos de nós descobrimos ao longo da vida: nem sempre o que funcionava na infância continua funcionando na vida adulta.
A história que conquistou o Brasil
Para entender o impacto desta nova campanha, precisamos voltar no tempo. Em maio de 1996, a DM9DDB, sob a liderança criativa de Erh Ray e Nizan Guanaes, criou algo que se tornaria um dos maiores sucessos da publicidade brasileira. A campanha original dos mamíferos da Parmalat mostrava crianças entre 3 e 4 anos vestidas de diversos animais, cantando uma música que grudava na cabeça e no coração.
O sucesso foi tão estrondoso que a campanha durou quase quatro anos, até janeiro de 2000. Mas o verdadeiro fenômeno aconteceu em 1998, quando a Parmalat lançou os bichinhos de pelúcia. Eram 21 modelos diferentes, e para conseguir um, o consumidor precisava juntar 20 códigos de barras das caixinhas e completar com R$ 8,00.
A demanda foi tão grande que a produção saltou de 300 mil para impressionantes 15 milhões de unidades. No dia 5 de maio de 1998, foram distribuídos 500 mil bichinhos em um único dia, sendo considerada a maior troca de brindes já feita no país. O resultado? A Parmalat viu seu faturamento saltar de R$ 38 milhões para R$ 1,87 bilhão por ano.
Uma nova perspectiva
Quase três décadas depois, os mamíferos da Parmalat retornaram, mas desta vez nas mãos da NotMilk, marca de leites vegetais da foodtech chilena NotCo. A campanha, criada pela agência David com produção da O2 Filmes e trilha da Mr. Pink, traz uma abordagem completamente diferente.
Na nova versão, adultos fantasiados como os antigos bichinhos aparecem com a barriga inchada e desconfortáveis após consumirem leite de vaca. A transformação acontece quando experimentam o NotMilk: os personagens voltam a sorrir, ganham leveza e se livram do desconforto.
"É um assunto delicado, mas nada como o bom humor para ajudar a digerir tudo isso. Não estamos dizendo que beber leite é errado, mas definitivamente não é para todos os mamíferos", explica Renato Simon, diretor de criação da David.
O mercado que mudou tudo
A escolha da NotMilk em revisitar essa campanha icônica não foi por acaso. O mercado brasileiro de leites vegetais está em plena expansão, crescendo 15% em 2022 comparado ao ano anterior. Os dados são reveladores: 85% dos brasileiros possuem algum nível de intolerância à lactose, um número significativamente maior que os 69% dos chilenos e 60% dos argentinos.
Fernanda Schwarzstein, head de marketing da NotCo no Brasil, explica a estratégia: "Queremos que mais consumidores experimentem o NotMilk para desmistificar a ideia de que o leite vegetal não é gostoso, seja porque nunca provaram ou não tiveram uma experiência como essa em outras marcas".
Segundo a pesquisa Opinaia Brand Track, 91% das pessoas consomem algum tipo de leite toda semana, mas menos de 20% optam por versões vegetais. É exatamente nessa lacuna que a NotMilk quer atuar.
Novos produtos para uma nova geração
O relançamento da linha NotMilk não veio sozinho. A marca apresentou duas novidades importantes: o NotMilk Proteína, com 7g de proteína por porção, e o NotMilk Aveia, que possui apenas quatro ingredientes.
O NotMilk Proteína representa uma resposta direta à demanda por alternativas vegetais ricas em proteínas, oferecendo 26g de proteína por embalagem, uma composição que até então só existia em opções de origem animal. Já o NotMilk Aveia aposta na simplicidade, com apenas água, aveia, fibra de chicória e óleo de coco.
As embalagens também foram reformuladas, com design mais tecnológico e foco em comunicar diretamente os benefícios nutricionais. A linha completa agora inclui NotMilk Original, NotMilk Zero, NotMilk Semi, NotMilk Chocolate, NotMilk Café Caramelo, NotMilk Barista e NotMilk Kids.
O poder da nostalgia como estratégia
A decisão de revisitar a campanha dos mamíferos da Parmalat demonstra o poder da nostalgia como ferramenta de marketing.
Fernanda Schwarzstein observa: "A nostalgia é uma ferramenta poderosa que desperta emoções e fortalece a conexão entre marcas e consumidores".
A estratégia não é apenas sobre relembrar o passado, mas sobre criar uma ponte entre gerações. Os adultos que cresceram com os bichinhos da Parmalat agora são pais e mães que podem estar descobrindo suas próprias intolerâncias alimentares ou buscando alternativas mais saudáveis para suas famílias.
Paulinho Caruso, diretor da O2, compartilha sua identificação pessoal com a campanha: "Como um bom intolerante à lactose que sou, minha identificação com a campanha de NotMilk foi instantânea".
A controvérsia e o debate
A campanha da NotMilk não passou despercebida pela concorrência. Em julho de 2025, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR) concedeu uma liminar para a retirada imediata da campanha, após representação da Lactalis, licenciada da Parmalat no Brasil.
A representação acusava a NotCo de violar direitos autorais, depreciar o leite de vaca e divulgar informações enganosas sobre o alimento. O conselheiro relator considerou que a campanha remetia visual e conceitualmente à peça original sem apresentar proposta criativa própria.
A NotCo respondeu reafirmando seu "compromisso com a ética publicitária" e destacando que há "uma demanda crescente por alternativas inovadoras e sustentáveis". O caso ilustra como a publicidade pode ser um campo de batalha quando diferentes setores competem pelo mesmo mercado.
O futuro dos leites vegetais no Brasil
O mercado global de leites vegetais está projetado para atingir US$ 47,55 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa de 11,7% ao ano. No Brasil, esse crescimento é impulsionado não apenas por questões de saúde, mas também por preocupações ambientais e éticas.
O leite de aveia, especificamente, deve registrar a maior taxa de crescimento, sendo isento de soja, com baixo teor de gordura e podendo ser livre de glúten. Seu sabor neutro e os benefícios à saúde reconhecidos pelos consumidores são fatores determinantes para essa expansão.
A NotCo posiciona-se nesse cenário como uma empresa que não quer ser apenas "mais uma alternativa ao leite animal", mas sim "uma opção mais vantajosa em relação a todas as outras, unindo nutrição, sabor e performance".
Crescendo com sabedoria
A volta dos mamíferos da Parmalat na campanha da NotMilk é muito mais que uma estratégia publicitária inteligente. É um espelho de como nós, como sociedade, amadurecemos e aprendemos a ouvir nosso corpo de forma mais consciente.
Se na infância seguíamos a música dos bichinhos sem questionar, hoje temos a sabedoria para reconhecer que nosso organismo mudou, nossas necessidades evoluíram e que está tudo bem buscar alternativas que nos façam sentir melhor.
A campanha nos lembra que crescer não significa apenas ficar mais velho - significa ganhar a liberdade de escolher o que realmente faz bem para nós. E talvez seja essa a maior lição que os mamíferos crescidos têm para nos ensinar: que cuidar de si mesmo com amor e inteligência é a forma mais madura de honrar tanto a criança que fomos quanto o adulto que nos tornamos.
Fonte: Uol