Quando você pede para o Google Gemini criar uma imagem ou processar dados complexos, provavelmente não imagina a quantidade de energia necessária para isso acontecer. Cada consulta feita a essas ferramentas de inteligência artificial consome uma quantidade significativa de eletricidade nos data centers espalhados pelo mundo.

Google fechou o maior acordo de energia limpa da história para alimentar seus data centers de IA. O gigante da tecnologia anunciou um investimento de US$ 25 bilhões (R$ 139 bilhões) em data centers e infraestrutura de IA durante os próximos dois anos. Paralelamente, a empresa firmou um acordo histórico de US$ 3 bilhões (R$ 16,7 bilhões) com a Brookfield Asset Management para modernizar duas usinas hidrelétricas na Pensilvânia.

Imagem: nypost.com | Data center do Google em Iowa.

O que torna esse acordo tão especial?

Este é o maior contrato corporativo de energia limpa para hidroeletricidade já assinado no mundo. O acordo permite ao Google comprar até 3.000 megawatts de capacidade hidrelétrica limpa nos Estados Unidos. Para colocar isso em perspectiva, essa quantidade de energia poderia abastecer cerca de 2,25 milhões de residências americanas.

O projeto começará com 670 megawatts das usinas Holtwood e Safe Harbor, localizadas no condado de Lancaster, na Pensilvânia. Essas instalações passarão por modernização e renovação de licenças para atender às demandas crescentes dos data centers de IA.

Por que a hidrelétrica é a escolha certa?

Diferentemente da energia solar e eólica, que dependem das condições climáticas, a energia hidrelétrica oferece fornecimento constante e confiável. Amanda Peterson Corio, chefe de energia de data centers do Google, explica: "A hidrelétrica é uma tecnologia comprovada e de baixo custo, oferecendo eletricidade confiável, nacional e livre de carbono que cria empregos e fortalece a rede para todos".

Essa característica é fundamental para operações de IA que precisam funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana. Os data centers não podem parar, e a hidrelétrica garante esse fornecimento ininterrupto.

Investimento massivo na região PJM

O Google concentrará seus investimentos na região PJM (Pennsylvania-New Jersey-Maryland Interconnection), que abrange 13 estados e representa a maior rede elétrica dos Estados Unidos. Ruth Porat, presidente e diretora de investimentos da Alphabet, anunciou: "O Google está investindo mais de US$ 25 bilhões em estados desta região PJM crítica durante os próximos dois anos".

A região PJM foi escolhida estrategicamente por incluir o norte da Virgínia, considerado o maior mercado de data centers do mundo. Essa localização permite ao Google estar próximo aos principais centros de demanda por serviços de IA.

Impacto na corrida tecnológica

Este movimento coloca o Google em posição competitiva contra outras gigantes da tecnologia. Enquanto a Meta está construindo "superclusters" de IA que podem consumir até 5 gigawatts de energia, o Google escolheu uma abordagem mais equilibrada, combinando expansão agressiva com aquisição de energia limpa a longo prazo.

Connor Teskey, presidente da Brookfield Asset Management, destaca: "Nossa parceria com o Google demonstra o papel crítico que a hidrelétrica pode desempenhar para ajudar clientes de grande escala a atingir seus objetivos energéticos".

Benefícios além da energia

O acordo vai além do fornecimento de energia. O Google lançará o programa "AI Works for America" na Pensilvânia, oferecendo treinamento gratuito em inteligência artificial para pequenas empresas e trabalhadores do estado. Essa iniciativa visa preparar a força de trabalho local para a era da IA.

As usinas hidrelétricas modernizadas também manterão compromissos existentes com outros consumidores, incluindo a Amtrak, que usa energia da usina Safe Harbor. Isso garante que o acordo beneficie múltiplos setores da economia.

Sustentabilidade e metas ambientais

O Google conseguiu reduzir as emissões de carbono de seus data centers em 12% durante 2024, mesmo com um aumento de 27% no consumo de energia. Isso foi possível graças à adição de fontes de energia limpa ao seu portfólio energético.

O acordo com a Brookfield é parte da estratégia do Google para atingir energia livre de carbono 24/7 até 2030. Essa meta ambiciosa significa que a empresa quer que toda sua operação seja alimentada por energia limpa a cada hora do dia, em todas as regiões onde opera.

Tendências do mercado

O setor de tecnologia está passando por uma transformação energética sem precedentes. A demanda por eletricidade dos data centers está levando o consumo de energia dos Estados Unidos a níveis recordes após quase duas décadas de estagnação.

Outras empresas também estão fazendo movimentos similares. A Amazon e a Microsoft prometeram investimentos de US$ 100 bilhões e US$ 80 bilhões, respectivamente, em infraestrutura de data centers. A Blackstone anunciou mais de US$ 25 bilhões em investimentos na infraestrutura digital e energética da Pensilvânia.

Desafios e considerações

Apesar dos benefícios, a expansão massiva dos data centers levanta preocupações sobre o impacto nas contas de energia dos consumidores e riscos de apagões. Reguladores de energia alertam que a rápida adição de instalações que consomem muita energia pode contribuir para o aumento das tarifas.

O acordo estrutural permite que a Brookfield mantenha seus compromissos existentes enquanto fornece energia adicional para o Google. Isso demonstra como é possível equilibrar as necessidades de diferentes setores da economia.

O futuro da energia para IA

Este acordo representa mais do que uma simples transação comercial. Ele estabelece um novo padrão para como as empresas de tecnologia podem crescer de forma responsável, combinando inovação tecnológica com sustentabilidade ambiental

A estratégia do Google de investir em ativos físicos de energia com contratos de 20 anos, em vez de compensações de carbono de curto prazo, oferece maior confiabilidade energética e impacto climático real. Isso pode servir como modelo para outras empresas do setor.

A parceria entre Google e Brookfield mostra que é possível atender à crescente demanda por IA sem comprometer os objetivos ambientais. Com a hidrelétrica fornecendo energia estável e limpa, os data centers podem operar de forma mais sustentável, preparando o caminho para um futuro onde a tecnologia e o meio ambiente trabalham em harmonia.

Este investimento histórico em energia limpa demonstra que as empresas de tecnologia estão levando a sério sua responsabilidade ambiental, mesmo enquanto expandem suas operações para atender à revolução da inteligência artificial.