Inteligência Artificial
Design
Estude sobre IA, mas não estude por desespero
Reflexões sobre como estudar Inteligência Artificial sem cair na armadilha do medo
21/05/2025, 12:00
Um pouco de contexto
Em dois anos, completo duas décadas trabalhando com tecnologia. Vinte anos que passaram voando e me levaram por caminhos muito diferentes. Comecei como instrutor de informática, numa época em que as pessoas ainda pagavam para aprender a usar o computador. Configurar o Windows, usar o Word, entender o que era um “disquete”. Parece coisa de outro mundo, e de certa forma é.
Depois migrei para a área de TI, mergulhei no desenvolvimento de sistemas e, com o tempo, encontrei minha paixão no Design. Foi um movimento natural, impulsionado pela curiosidade e pelo desejo de entender melhor como as pessoas se relacionam com a tecnologia.
Ao longo dessa jornada, presenciei muitas transformações. Algumas sutis, outras radicais. Vi os notebooks se popularizarem, os celulares se tornarem parte do corpo humano, e os smartphones redefinirem completamente nosso modo de viver. Cada avanço trouxe consigo uma nova onda de aprendizado. E, invariavelmente, de adaptação.
A nova onda chamada Inteligência Artificial
Agora estamos vivendo mais uma grande virada de chave. A Inteligência Artificial, embora não seja propriamente uma novidade, ganhou uma nova dimensão com os avanços da IA generativa. Ferramentas como ChatGPT, Midjourney, Copilot e tantas outras deixaram de ser coisa de laboratório e passaram a fazer parte do cotidiano de quem trabalha com tecnologia. E também de quem não trabalha.
Essa popularização tem gerado encantamento, mas também muito incômodo. As pessoas estão fascinadas com as possibilidades, mas, ao mesmo tempo, assustadas com a velocidade das mudanças. Tem gente sentindo que precisa aprender tudo, o tempo todo. Que, se não correr, vai ficar para trás. E é aí que mora o perigo.
O que mais tenho percebido é um comportamento que mistura ansiedade e culpa. Como se estudar sobre IA fosse uma obrigação urgente, uma corrida contra o relógio para não se tornar irrelevante no mercado. É um sentimento compreensível, mas pouco saudável.
Quando o medo vira o motor
Estudar por medo é uma armadilha. A sensação de que estamos atrasados nos empurra para o consumo acelerado de conteúdos. A gente entra em uma espiral de cursos, vídeos, fóruns, artigos, tudo com a intenção de “dominar” a IA. Mas a verdade é que esse domínio absoluto não existe, nem mesmo entre os especialistas que estão desenvolvendo essas tecnologias.
Quando o medo vira o motor da aprendizagem, a gente perde o prazer da descoberta. Começa a estudar de forma mecânica, tentando cumprir metas imaginárias que só alimentam a ansiedade. E, ironicamente, aprendemos menos, não mais. Porque não há espaço para reflexão, só para acúmulo.
Foi diferente no começo da minha carreira. Lá atrás, quando a tecnologia se popularizava, a gente se jogava com curiosidade. Aprendíamos fuçando, testando, errando. Não havia uma cobrança de produtividade sobre o aprendizado. Era mais lúdico, mais leve. O conhecimento vinha como consequência do interesse genuíno.
Curiosidade como estratégia
Será que não está na hora de resgatar esse espírito? Ao invés de transformar a IA em mais uma obrigação, talvez possamos encará-la como uma oportunidade de expansão de repertório. Não é necessário virar especialista em tudo, nem acompanhar todas as tendências em tempo real. O que faz sentido agora é entender o básico, experimentar ferramentas, perceber como elas afetam nosso trabalho e nossas relações.
Estudar com curiosidade permite um aprendizado mais profundo e duradouro. A gente passa a enxergar conexões, a fazer perguntas melhores, a encontrar aplicações que fazem sentido dentro da nossa realidade. E isso vale muito mais do que decorar meia dúzia de prompts ou entender o algoritmo por trás de um modelo.
Construir repertório leva tempo. E não existe uma linha de chegada. O que existe é o movimento constante de aprender, desaprender e aprender de novo. E tudo bem. É assim que a gente evolui.
O caminho que estou trilhando
Eu sigo estudando sobre IA. Mas não com o objetivo de virar referência no assunto ou antecipar todas as mudanças do mercado. O que me move é o interesse genuíno por entender o impacto dessa tecnologia nas nossas vidas, no design, na forma como pensamos e criamos soluções.
Uso a IA como ferramenta para ampliar minha visão, não como uma muleta para resolver tudo. E, principalmente, me permito aprender no meu ritmo, sem culpa. Porque sei que o mais importante não é estar à frente de todo mundo, mas estar presente no processo.
Se você está se sentindo pressionado a correr, talvez seja o momento de respirar fundo e ajustar a rota. Troque a cobrança pela curiosidade. Troque o medo pela vontade de explorar. E lembre que ninguém sabe exatamente para onde estamos indo, e tudo bem. O importante é continuar se movimentando com consciência.
A IA vai continuar mudando o jogo. Mas quem decide como jogar, e por que jogar, ainda somos nós.
Escrito por: Alex Soares