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Demissões na Astronomer, após flagra em show do Coldplay?
Entenda como o incidente no show do Coldplay levou a trocas de executivos e se ouve demissões na Astronomer.
22/07/2025, 17:00
A Astronomer, empresa avaliada em mais de US$ 1,3 bilhão, nunca havia recebido tanta atenção da mídia. Na noite de 16 de julho de 2025, durante o show do Coldplay no Gillette Stadium, em Massachusetts, a famosa "kiss cam" capturou Andy Byron e Kristin Cabot em um momento íntimo. O que se seguiu foi uma reação de pânico: ela cobriu o rosto com as mãos, ele se abaixou para sair do enquadramento, e Chris Martin não perdeu a oportunidade de comentar: "Ou eles estão tendo um caso ou são muito tímidos".
O vídeo rapidamente alcançou mais de 120 milhões de visualizações6, transformando-se no fenômeno viral conhecido como #ColdplayGate. Em questão de horas, internautas identificaram os dois executivos e começaram a especular sobre uma possível relação extraconjugal entre eles.
O que faz a Astronomer
Fundada em 2015 em Cincinnati e posteriormente transferida para Nova York, a empresa se tornou referência mundial em orquestração de dados baseada no Apache Airflow, plataforma de código aberto amplamente utilizada por organizações para gerenciar suas pilhas de dados. Com clientes como Apple, Ford e Uber, a empresa captou mais de US$ 375 milhões de investidores renomados como Bain Capital Ventures e Salesforce Ventures.
A reputação da Astronomer sempre esteve alicerçada na confiabilidade e credibilidade, valores fundamentais para empresas que lidam com dados sensíveis de grandes corporações. Por isso, quando o vídeo viralizou, a questão não era apenas sobre conduta pessoal, mas sobre como isso poderia afetar a confiança de clientes e investidores em uma empresa que gerencia informações críticas para gigantes da tecnologia.
Por que Kristin Cabot não foi demitida
A permanência de Kristin Cabot no cargo, mesmo após o escândalo que levou Byron à renúncia, tem explicações que vão além da aparente injustiça. Segundo advogados especialistas consultados pela mídia, há várias razões jurídicas e procedimentais que explicam essa situação.
Grandes empresas não podem demitir funcionários sem seguir protocolos estabelecidos e avaliar cláusulas contratuais específicas.
A advogada Nicole Brenecki explica que "não se pode simplesmente demitir alguém porque as manchetes ficaram ruins. Há contratos, investigações e implicações legais a considerar".
Diferentemente de Byron, que ocupava o cargo de CEO e tinha maior responsabilidade de representação da empresa, Cabot possui proteções contratuais que exigem um processo mais detalhado para eventual demissão.
Para que haja demissão por justa causa em casos de relacionamento no ambiente de trabalho, é necessário comprovar violações específicas como assédio, favorecimento ou abuso de poder. Até o momento, não surgiram evidências de que Cabot tenha usado sua posição para obter vantagens indevidas ou que tenha ocorrido qualquer forma de coerção. A legislação brasileira, assim como a americana, protege o direito dos funcionários a relacionamentos consensuais, desde que não interfiram no ambiente de trabalho.
Investigação interna em andamento
A Astronomer iniciou uma investigação formal para apurar possíveis violações de políticas internas. Reportagens indicam que Cabot foi colocada em licença administrativa durante esse período, permitindo que a empresa conduza uma análise imparcial dos fatos. Esse processo é necessário para determinar se houve quebra de código de conduta, favorecimento ou outras irregularidades que justifiquem medidas disciplinares.
A posição hierárquica também influencia nas consequências. Como CEO, Byron tinha responsabilidades de governança e representação que vão além das funções operacionais. Cabot, embora ocupe um cargo de liderança como Chief People Officer, não possui o mesmo nível de responsabilidade pela imagem pública da empresa. O comunicado oficial da Astronomer deixou claro que "líderes são esperados para dar exemplo de conduta e responsabilidade", o que historicamente se aplica mais rigorosamente aos principais executivos.
Impactos pessoais e profissionais do escândalo
O escândalo teve repercussões devastadoras na vida pessoal dos envolvidos. Megan Kerrigan Byron, esposa de Andy Byron, removeu o sobrenome do marido de suas redes sociais e posteriormente deletou sua conta no Facebook. O casal, que tem dois filhos, enfrenta uma crise matrimonial que pode resultar em divórcio, com especialistas estimando que ela poderia receber entre US$ 20 a 70 milhões em uma eventual separação, devido às leis matrimoniais de Massachusetts que determinam divisão igualitária de bens.
A resposta da empresa e mudanças na liderança
Pete DeJoy, cofundador e Chief Product Officer da Astronomer, assumiu como CEO interino após a renúncia de Byron. Em seu primeiro pronunciamento público, DeJoy reconheceu que "os eventos dos últimos dias trouxeram um nível de atenção midiática que poucas empresas jamais experienciam", descrevendo a situação como "incomum e surreal" para toda a equipe.
DeJoy, que trabalha na Astronomer há oito anos, demonstrou uma abordagem pragmática ao lidar com a crise. Surpreendentemente, ele foi flagrado curtindo publicações com memes sobre o escândalo de seu antecessor, incluindo um post de um ex-funcionário que dizia "Sim, a gente riu dos memes". Essa postura descontraída pode indicar uma tentativa de normalizar a situação e seguir em frente.
Precedentes corporativos e tendências do mercado
O caso da Astronomer não é isolado. Nos últimos anos, conselhos de administração têm demonstrado menor tolerância para relacionamentos entre executivos seniores. Em 2019, o McDonald's demitiu seu CEO Steve Easterbrook por se envolver com uma funcionária, e em 2023, o CEO da BP, Bernard Looney, também deixou o cargo por motivos similares.
No entanto, esses casos geralmente envolvem os principais executivos das empresas, não funcionários de níveis hierárquicos inferiores. A diferença no tratamento entre Byron e Cabot reflete uma tendência onde a responsabilidade pela conduta ética recai mais pesadamente sobre aqueles em posições de maior visibilidade e responsabilidade corporativa.
Implicações para a cultura corporativa moderna
O escândalo da Astronomer levanta questões importantes sobre os limites entre vida pessoal e profissional no ambiente corporativo moderno. Especialistas em recursos humanos apontam que, embora relacionamentos entre colegas não sejam proibidos pela legislação trabalhista, empresas podem estabelecer políticas internas para evitar conflitos de interesse.
A situação também destaca a importância de políticas claras sobre relacionamentos no ambiente de trabalho, especialmente quando envolvem diferentes níveis hierárquicos. A consultora Madalena Feliciano observa que "para lideranças, a responsabilidade de seguir e representar o código de conduta da empresa é ainda maior".
O futuro da Astronomer
Embora Cabot tenha mantido oficialmente seu cargo, fontes próximas à empresa indicam que ela está em licença administrativa enquanto a investigação interna prossegue. O resultado dessa investigação determinará seu futuro na Astronomer. As possibilidades incluem desde sua manutenção no cargo até eventual demissão, dependendo das conclusões sobre violações de políticas internas.
A empresa enfrenta o desafio de equilibrar a necessidade de manter padrões éticos elevados com a proteção dos direitos trabalhistas de seus funcionários. A decisão final sobre Cabot será um indicativo de como a Astronomer pretende lidar com questões de conduta pessoal no futuro.
O escândalo transformou a Astronomer em um nome mundialmente conhecido, mas não necessariamente pelos motivos certos. Pete DeJoy reconheceu ironicamente que, "embora nunca tivesse desejado que acontecesse assim, a Astronomer agora é um nome conhecido".
A empresa trabalha para minimizar os danos à sua reputação, enfatizando que seus produtos e serviços para clientes continuam inalterados. Com clientes como Apple, Ford e Uber dependendo de suas soluções de orquestração de dados, manter a confiança dessas corporações é fundamental para a continuidade dos negócios.
A permanência de Kristin Cabot no cargo enquanto Andy Byron renunciou não reflete uma injustiça ou favorecimento, mas sim diferenças na estrutura corporativa, responsabilidades hierárquicas e procedimentos legais. Como Chief People Officer, Cabot possui proteções contratuais que exigem um processo investigativo mais detalhado antes de qualquer ação disciplinar.
O escândalo do Coldplay serve como um lembrete poderoso de que, na era digital, momentos privados podem se tornar públicos instantaneamente, com consequências profissionais devastadoras. Para a Astronomer, empresa que construiu sua reputação na confiabilidade e credibilidade, navegar por essa crise enquanto mantém a confiança de clientes e investidores representa um dos maiores desafios de sua história.
Independentemente do resultado da investigação interna sobre Cabot, o caso já se tornou um marco na discussão sobre ética corporativa, relacionamentos no ambiente de trabalho e as complexas interseções entre vida pessoal e responsabilidade profissional no mundo empresarial moderno. A forma como a Astronomer resolver essa situação definirá precedentes importantes para outras empresas enfrentando dilemas similares.
Fonte: The Hook | The Wall Street Journal