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Quando a mudança visual desconecta da essência da marca

Rebranding da Chiquinho Sorvetes divide opiniões ao adotar novo logo minimalista

29/04/2025, 21:00

Antes e depois da logo da Chiquinho Sorvetes
Antes e depois da logo da Chiquinho Sorvetes
Antes e depois da logo da Chiquinho Sorvetes

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A tradicional sorveteria brasileira que conquistou o paladar de milhões decidiu mudar sua cara depois de anos com a mesma identidade visual. O resultado? Uma avalanche de reações nas redes sociais e um debate acalorado sobre quando uma marca deve realmente se renovar.

O rebranding da Chiquinho Sorvetes anunciado recentemente causou mais do que um simples burburinho. A mudança, que apresentou um novo logo, novo ambiente para as lojas e uma abordagem visual mais minimalista, gerou uma onda de críticas e saudosismo nas redes sociais, mostrando como as marcas tradicionais estão diretamente ligadas à memória afetiva dos consumidores.


O que mudou na identidade visual da Chiquinho Sorvetes?

Quem acompanha as lojas da rede já havia se acostumado com o famoso logo em formato de "alvo" com círculos vermelhos e brancos sobre fundo azul, contendo o nome "Chiquinho" no centro. Era uma marca que, apesar de não ter o design mais moderno, carregava personalidade e reconhecimento imediato.

A nova proposta trouxe algumas mudanças significativas:

  • Substituição do fundo predominantemente azul por amarelo/laranja

  • Introdução de um sorvete de casquinha literal no centro dos círculos

  • Nova tipografia, agora em caixa alta

  • Estilo mais minimalista e contemporâneo

  • Redesenho completo do ambiente das lojas, agora mais clean

Segundo a própria marca, a mudança visa modernizar a identidade sem perder a essência. Em comunicado oficial no Instagram, a Chiquinho afirmou: "Nossa nova identidade mantém o amor pelo que fazemos, a qualidade que você já conhece e o carinho que entregamos em cada sorvete. Somos movidos pela fé, guiados pela empatia, e seguimos espalhando felicidade sempre com o seu sorvete."




A professora de design Itamara Ferreira questionou: "depois de 45 anos as pessoas ainda não sabem o que a marca vende?"




Entre críticas e memes

As redes sociais não perdoaram a novidade. Comentários como "perdeu a essência", "virou marca genérica" e "não precisava mudar" dominaram as publicações da empresa. A reação foi tão intensa que a marca precisou até desabilitar os comentários em algumas de suas postagens.

Um dos principais pontos criticados foi a aparente perda de identidade. "Parece que foi feito no GPT-da-vida", escreveu um usuário identificado como Rian Dutra nos comentários. Outros compararam o logo com marcas concorrentes, afirmando que agora parece "uma casquinha do McDonald's".

Várias críticas técnicas também surgiram de profissionais da área:

  • Falta de originalidade: O ícone do sorvete pareceu genérico e sem personalidade.


  • Problemas de aplicação: Em tamanhos reduzidos, como nos perfis de redes sociais, o logo perde legibilidade.

  • Distanciamento da essência: A mudança na paleta de cores principal (do azul para o amarelo/laranja) causou estranheza.

  • Excesso de literalidade: A professora de design Itamara Ferreira questionou: "depois de 45 anos as pessoas ainda não sabem o que a marca vende?"

Por que marcas tradicionais enfrentam resistência ao mudarem?

A resistência do público à nova identidade da Chiquinho Sorvetes não é caso isolado. Marcas com forte apelo nostálgico costumam enfrentar rejeição inicial quando decidem se modernizar. Isso acontece porque:

  1. Conexão emocional: As pessoas desenvolvem relações afetivas com marcas que fazem parte de momentos importantes de suas vidas

  2. Reconhecimento imediato: Uma identidade visual consolidada por anos cria um atalho mental de reconhecimento

  3. Pertencimento: Marcas tradicionais costumam gerar sensação de familiaridade e conforto

Como explicou o designer Kaio Cezar em seu perfil do Instagram: "Tem alguém que tem que estar acima do design [...] sorvete Chiquinho não vende sorvete", sugerindo que a marca vende experiência e memória afetiva, não apenas o produto em si.

Imagens: publicitarioscriativos.com


O equilíbrio entre modernização e preservação da essência

O desafio de qualquer rebranding está justamente no equilíbrio entre se modernizar e preservar os elementos que tornaram a marca reconhecível e querida. Segundo o canal Euman Design, que também analisou a mudança: "O rebrand bem estruturado é sempre bem-vindo para qualquer marca. [...] Porém, nessas mudanças, nesses rebrand, as pessoas que já conheçam a marca devem assimilar que aquela cor, aquelas formas, representa aquela marca de uma forma muito rápida."

Especialistas apontam que um rebranding eficaz deve:

  • Manter elementos-chave da identidade original

  • Evoluir gradualmente, sem rupturas drásticas

  • Considerar o valor emocional que a marca construiu

  • Testar exaustivamente as reações do público antes do lançamento oficial

No caso da Chiquinho, a crítica principal não foi à necessidade de modernização – muitos concordam que a marca precisava se atualizar – mas sim à forma como foi feita, aparentemente sacrificando elementos distintivos que a tornavam única.


Como a empresa respondeu às críticas?

Em resposta oficial à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, a Chiquinho Sorvetes afirmou que "está acompanhando os comentários e entende que são opiniões pessoais e normais em se tratando de rebranding". A empresa não deu mais detalhes sobre o processo da mudança ou se houve uso de inteligência artificial no desenvolvimento do logo, como alguns posts virais sugeriram.

Embora a marca continue firme na divulgação da nova identidade, será interessante observar se haverá ajustes em resposta ao feedback massivo. Casos semelhantes mostram que empresas frequentemente fazem pequenas adaptações após reações negativas, sem necessariamente voltar ao visual anterior.


Lições para outras marcas

O caso da Chiquinho Sorvetes oferece algumas reflexões importantes para empresas que planejam renovar suas identidades visuais:

  • Envolver o público: Testar conceitos com consumidores leais antes da implementação

  • Preservar elementos icônicos: Identificar quais aspectos da marca são fundamentais para o reconhecimento

  • Explicar a mudança: Comunicar claramente as razões e benefícios da renovação

  • Transição gradual: Considerar uma introdução progressiva de novos elementos

Vale lembrar que, com o tempo, o público tende a se acostumar com mudanças. Como apontou no canal Chief of Design: "O design não supera a qualidade do produto. [...] O Chiquinho tem uma marca genérica a partir de agora, tem uma marca que daria para fazer melhor, sim. Porém, o sorvete deles é bom. E isso não vai fazer diminuir as vendas."


O futuro da Chiquinho após a polêmica

A Chiquinho Sorvetes é a segunda maior rede de franquias de sorvete do Brasil em número de unidades, ocupando a 21ª posição entre as franqueadoras, em geral. Com 921 unidades em 2024 e uma história que começou nos anos 1980, a marca construiu uma presença sólida no mercado brasileiro.

Apesar da polêmica inicial, especialistas em marketing sugerem que a resistência a mudanças em marcas tradicionais é natural e, com o tempo, o público pode se adaptar. O verdadeiro teste será verificar se a nova identidade conseguirá manter a conexão emocional com os clientes antigos enquanto atrai novos consumidores.

Para a Chiquinho e outras marcas que enfrentam desafios semelhantes, o segredo pode estar não apenas no visual que apresentam, mas principalmente na experiência que proporcionam. No final das contas, o sabor do sorvete e o atendimento nas lojas continuarão sendo fatores decisivos para a fidelidade do cliente, independentemente do logo estampado na fachada.

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